Sahel: à Beira do Abismo
A palavra Sahel significa costa ou margem. Em termos geográficos, representa a fronteira sul do deserto do Saara, uma região que abrange mais de 3 milhões de Km², que representa um dos pontos estratégicos do continente africano. A região política do Sahel, conforme definida pela Estratégia Integrada das Nações Unidas para o Sahel, abrange dez países: Senegal, Gâmbia, Mauritânia, Guiné, Mali, Burkina Faso, Níger, Chade, Camarões e Nigéria.
Na esfera política, o Sahel é descrito como o “cinturão golpista”, dada a elevada incidência de golpes de Estado. Desde 1950, dos 102 golpes registados em África, 42 tiveram lugar nesta região. A fragilidade das instituições democráticas, o enfraquecimento do Estado, as desigualdades socioeconómicas e a proliferação de grupos armados, cria um ambiente favorável à tomada do poder por via militar. Esta dinâmica compromete a governança, perpetua ciclos de violência e constitui um entrave profundo ao desenvolvimento da região.
Apesar de estarem entre os maiores produtores de ouro em África, os países do Sahel não têm conseguido converter esta abundância mineral em benefícios tangíveis para as suas populações. Pelo contrário, a exploração aurífera tem acentuado as desigualdades sociais, uma vez que a maioria das minas se encontra sob controlo de elites locais ou de empresas estrangeiras. Este fenómeno ilustra a chamada “maldição dos recursos naturais”, um paradoxo em que a abundância de recursos não se traduz em desenvolvimento económico, mas antes em regimes autoritários e conflito permanente. A agravar este quadro, no Sahel os grupos terroristas controlam zonas mineiras de ouro, recorrendo à exploração ilegal como fonte de financiamento das suas operações. Segundo o Índice de Terrorismo Global 2024, Burkina Faso, Mali e Níger figuram entre os países mais afetados pelo terrorismo.
De resto, conforme o Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre o Clima, o Sahel está entre as regiões mais vulneráveis às alterações climáticas, com previsões de aumento da temperatura de 2°C até 2040. Este aquecimento intensifica a escassez de recursos e acentua a insegurança alimentar na região, dada a crescente desertificação do solo.
Em suma, o Sahel enfrenta desafios interligados — insegurança alimentar, terrorismo e degradação ambiental — agravados pelo colapso climático, pela instabilidade política e pela atividade criminosa, tornando-a uma das regiões mais vulneráveis de África. Neste contexto, um dos grandes desafios da União Europeia consiste em gerir e controlar a imigração ilegal proveniente desta região, procurando mitigar os impactos da instabilidade nos fluxos migratórios e reforçar a segurança externa.