A economia cresce e o povo empobrece
Aumentam as desigualdades, aprofunda-se a injustiça social, e cresce o sentimento de que só alguns beneficiam do que deveria ser de todos
Estamos em agosto. Para muitos, este é o tempo do merecido descanso. Para demasiados madeirenses é mais um mês de aperto, em que sentem o brutal custo de vida. Para estes, as férias não são tempo de descanso no sacrifício, no fazer contas ao cêntimo e no fazer escolhas difíceis entre o que se pode e não se pode gastar.
Habitualmente dizíamos que ter férias era um luxo, agora o luxo é ir ao supermercado. A Madeira é das regiões da União Europeia onde custa mais ir ao supermercado: desde 2020, os preços subiram 37% na Região. Podemos mesmo dizer, infelizmente, que os madeirenses são, na Europa, os que mais viram os preços dos alimentos e bebidas não alcoólicas aumentarem. Basta entrar num supermercado para perceber o impacto real dessas estatísticas. Um cabaz básico de alimentos pesa hoje de forma insustentável no orçamento familiar.
E enquanto a conta cresce no carrinho de compras, os salários continuam entre os mais baixos do país. Pagamos mais por tudo e ganhamos menos.
A verdade é que a nossa Região enfrenta um paradoxo preocupante: temos crescimento económico, mas temos também salários médios entre os mais baixos do país. Produzimos riqueza, mas essa riqueza não está a ser redistribuída. O resultado? Aumentam as desigualdades, aprofunda-se a injustiça social, e cresce o sentimento de que só alguns beneficiam do que deveria ser de todos.
Se juntarmos a tudo isto a crise da habitação, com preços das casas e rendas incomportáveis, uma classe média afogada e jovens impossibilitados de iniciar os seus projetos de vida, percebemos que algo está estruturalmente errado nas opções políticas deste Governo. O custo de vida dispara, o acesso a uma casa digna torna-se miragem e o poder de compra continua a definhar.
Há famílias a cortar em bens alimentares essenciais para garantir a renda da casa. Há reformados que têm de escolher entre medicamentos ou comida. Há jovens que adiam os seus projetos de vida porque simplesmente não conseguem pagar uma renda de casa.
E o que faz o Governo Regional?
Apresenta com pompa e circunstância um excedente orçamental de 200,2 milhões de euros. O Governo guarda 200 milhões de euros, enquanto os madeirenses contam cêntimos. Para que serve um excedente orçamental, se não serve as pessoas?
Há um abismo entre o crescimento económico e a vida real das pessoas. A economia cresce, mas não chega à mesa das famílias. A Região arrecada mais receita, mas não investe onde faz falta. Já imaginaram quantas casas se construiriam com 200 milhões de euros? Há dinheiro a mais nos cofres do governo e menos dinheiro no bolso dos madeirenses. Há algo de profundamente errado quando a economia cresce… e o povo empobrece.
Para quê tanto dinheiro nos cofres, se falta tanto na vida das pessoas? O PS propôs usar esse excedente para apoiar quem mais precisa, para baixar o custo de vida, para reforçar a habitação pública, pagar as propinas e as creches. A resposta foi sempre a mesma: não.
O PS propôs baixar o IVA, uma medida para aliviar o bolso dos madeirenses, mas o Governo disse não. Disse não às famílias.
Este Governo governa para as estatísticas, mas esquece que por detrás dos números estão pessoas de carne e osso. Pessoas que trabalham muito e recebem pouco. Que vivem numa terra rica, mas com pouca riqueza distribuída.
Governar não é acumular excedentes, é cuidar das pessoas. E cuidar das pessoas é garantir que o desenvolvimento económico se traduz em bem-estar real, que os apoios chegam a quem mais precisa, que o trabalho é justamente remunerado, que viver na Madeira é uma oportunidade e não um peso.