Na Ilha da Bolha
Era uma vez uma pequena ilha, localizada no coração de um enorme oceano. Os habitantes, cujas gerações lá vivem faz tempo, lidam com o pouco que têm e dedicam-se a servir os turistas que a visitam. A economia da ilha gira em torno do turismo, mas essa atividade não só não promove o desenvolvimento verdadeiro da comunidade, como também arrasa sem pudor a sua maior riqueza que é a Natureza, para além de constituir uma pesadíssima pegada ecológica em termos abastecimento da ilha, pois quase tudo o que se consome, vem fora e, a população, continua sem perceber que vive aprisionada numa rotina conformista.
Como figuras de relevo temos a Catarina, uma jovem corajosa que sonha em transformar a vida no pequeno território insular e procura formas de despertar os seus conterrâneos para uma nova realidade. O Zé, velho agricultor que pesca nas horas vagas, que sempre acreditou que o turismo era uma bênção, mas que aos poucos começa a ver os problemas que isso trouxe à ilha e à comunidade. A Dona Rosa, a matriarca da ilha, que há muito tempo se conformou e não vê problemas em viver para servir os turistas, e o Filipe, o político local, que é cúmplice do poder instalado e utiliza o conformismo dos habitantes para se manter no poder. Finge ser um defensor da ilha, mas quer é garantir que a população permaneça submissa. Em mais um caloroso dia de verão, a Ilha da Bolha está preparada para lidar com as enchentes turísticas. Os habitantes, vestidos com trajes típicos e impregnados de uma cultura de servilismo, e que Filipe, eufemisticamente, chama de “bem servir”, recebem os visitantes como se fossem celebridades. Catarina, no entanto, sabe que algo não está certo. Enquanto observa seus amigos e familiares dedicando-se a agradar os turistas, ela percebe que essa atividade, onde a servidão é profissionalismo, fortalece as correntes que aprisionam o despertar da ilha. Fascinada por um livro que encontrou na biblioteca da ilha, Catarina descobre a história da luta pela liberdade em outras partes do mundo e começa a questionar a ordem estabelecida, onde a população está aprisionada sem disso se dar conta. Ela tenta despertar a fertilidade do pensamento crítico entre os seus amigos, especialmente no Zé, que, após muitas conversas, também começa a enxergar as realidades escondidas por detrás da propalada prosperidade turística, nomeadamente o efeito psicológico que contribui para o conformismo instalado, como resultado de servir turistas no dia a dia, assim como a repercussão na subida galopante dos preços da habitação, acessíveis apenas a estrangeiros, e o enorme número de conterrâneos que mesmo tendo trabalho, recorrem às instituições de caridade em busca de um cabaz de alimentos. Catarina decide articular uma reunião clandestina, onde planeia discutir a necessidade de um despertar democrático, mesmo temendo a reação dos governantes que controlam a ilha. No entanto, posteriormente, quando se torna pública a ocorrência e o propósito do encontro, Filipe utiliza a situação para reafirmar o seu controlo, manipulando a perceção dos habitantes sobre a “prosperidade e evolução” que o turismo trouxe. Enquanto isso, Dona Rosa continua a acreditar que aqueles que vêm à ilha são a chave para a sua felicidade e da comunidade. Ela se torna um obstáculo para Catarina, alegando que a mudança poderia destruir seu modo de vida. O clímax dá-se quando um grande evento turístico é organizado, e Catarina e seus aliados decidem aproveitar a ocasião para fazer uma declaração pública sobre a necessidade de construir um futuro diferente. Dão início à distribuição de panfletos, provocando uma onda de debate na ilha. A população, dividida, enfrenta um dilema: permanecer segura no que conhecem e pensam ser o melhor, ou arriscar no novo e incerto, na procura de um futuro melhor. Após uma noite tempestiva, onde as vozes de revolta e conformidade se entrelaçam, a ilha vê-se num ponto crucial. Embora a aposta de Catarina e Zé se revele numa frágil união, a semente está lançada e muitos começam a questionar o que significa realmente prosperidade e evolução e ser-se livre. Mesmo com as forças que pretendem a manutenção do padrão existente e a cultura de conformidade, a centelha da mudança foi acesa, e a luta por um futuro mais digno e libertador tem o seu despertar. A estória termina em aberto, mostrando que o despertar democrático é uma batalha necessária e contínua.