O caminho certo merece o melhor calçado

Há daqueles casos, que nos transtornam de tal modo, que demora a que a perturbação por eles causada acalme, e deles fica como que uma neblina de impressões pouco agradáveis, de memórias incómodas e de alguma revolta. Esta neblina, em determinada altura, parece dissipar-se e desaparecer mas, em presença de outros casos não menos insólitos, regressa mais densa e sufocante.

As circunstâncias e o momento podem variar, mas os seus “promotores “são, invariavelmente, da mesma índole. Uns, por déficit, outros por excesso.

Causa-me alguma apreensão a idolatria de imbecis, só aceitável pela ausência de espírito crítico ou pela possibilidade de uma patologia qualquer. Uma doença grave, digo eu. Das que minam devagarinho o espírito e terminam no desvario total da cabeça.

Acreditar e defender, implicitamente, que um mentiroso não mente, nunca mentiu, nem mentirá é patético. Afirmar que encarna a virtude, a verdade, a justiça e amor ao povo é surreal. Provavelmente, tal prodígio ascenderá a santo sem passar pela beatificação. Salta à vista a validade e a petulância que se sobrepõem à humildade, e são fruto da arrogância demonstrada pela ocupação transitória de um cargo qualquer.

A transparência exaustivamente proclamada e pouco praticada, não é um mero detalhe. Apregoa-se, no entanto, aos quatro ventos que é um elemento exigível e indispensável como sinal de excelência, confiança e integridade. Como, quando e onde?

A transparência é fundamental e os cidadãos anónimos não podem ser discriminados quando não aceitam, tacitamente, o que alguns iluminados decidem arbitrariamente. Não podem, nem devem assemelhar-se a “carneiros” cuja capacidade de pensamento se reduz à liturgia eleitoral.

Soberba mesquinha e mentiras execráveis devem ser alvo de penalização. Desculpar tudo isto é tão criminoso como conhecer e não denunciar. Sinto desprezo pelas acções/reacções de “reles” que se julgam importantes e impolutos. Porque já provei desse veneno. Hábitos de promiscuidade com amigos e afins, na vida política, são avessos a uma gestão eficaz e criteriosa da “coisa pública”.

Más decisões, vinganças inusitadas e dualidade de critérios não são aceitáveis em quem se põe em bicos de pés, exibindo o seu músculo democrático.

O caminho mais certo merece o melhor calçado. Não é, decididamente, o que se vê.

É preciso mudar de sapatos. Rapidamente.

Madalena Castro