Obrigado
Fui distinguido pelo Governo da nossa Região Autónoma da Madeira com Insígnia Autonómica de Valor. Agradeço de coração a todos os que contribuíram para receber esta alegria, esta distinção. Estou grato a quem a propôs, aos que a aprovaram e, sobretudo, aos que estiveram todos estes anos a meu lado, fizeram parte das minhas equipas de trabalho e, assim, são merecedores da minha gratidão que será eterna.
Naturalmente que muitos outros seriam merecedores de igual honra, certamente os que me acompanharam e tornaram possível fazer trabalho reconhecido pela comunidade. Insisto: ninguém faz nada de bom sozinho. É preciso liderança de equipas motivadas e competentes que tornem possível fazer os sonhos serem realidade. Eu tive o privilégio de, em cada momento e para diferentes tarefas, juntar pessoas em quem confiei e não me desiludiram. Pelo contrário.
Eu tinha sonhos para a Madeira e Porto Santo! Alguns são hoje realidades. Fazem parte do nosso quotidiano e melhoraram a nossa qualidade de vida.
Não vou fazer uma biografia. Tenho escrito muito, pouco sobre mim próprio, mas alguma coisa sobre o que penso do futuro da Madeira e Porto Santo assim como tenho registado muitos episódios vividos, alguns a bem da verdade histórica outros por serem divertidos.
Sei o que fiz. O que trabalhei. O que sofri. As dificuldades que contornei para não ter uma carreira curta, mal sucedida. Podia muito bem ter acontecido.
É bem provável que não saibam mas comecei na vida pública, em 1978, com 24 anos de idade. Liderei a formação da JSD na Madeira e fui o seu primeiro presidente. Orgulho imenso, tarefa maravilhosa, satisfação sem igual. Um grupo inesquecível onde recordo, com imensa saudade, o meu colega e amigo Carlos Machado.
Fui director regional dos transportes, dependia directamente do presidente do Governo Regional e concretizei uma das primeiras transferências de poderes e gestão: os portos. Em menos de dois anos construí o parque de contentores, onde hoje estranhamente está um estacionamento, um hotel e um museu. Tivemos, no verão de 1980, uma greve da TAP por um mês inteiro e da marinha mercante durante três meses. Estávamos abandonados. Sem voos, tomei a iniciativa de fretar aviões estrangeiros, que operaram entre Lisboa e Funchal, e pedir ajuda à força aérea, voos nos quais os passageiros aceitavam viajar sem seguro. Fretei navios cargueiros que nos traziam as mercadorias imprescindíveis como contratei outros, estes refrigerados, que levavam a banana. Foi quando dei nas vistas.
Nessa altura, na sequência do acidente aéreo em Santa Cruz, liderei a regionalização dos aeroportos e a primeira ampliação por empenho e decisão do presidente Ramalho Eanes. O rapaz de 25 anos reunia com o ministro dos Transportes, Viana Batista, e com o ministro das Finanças, João Salgueiro.
Nunca ninguém poderá avaliar o amadurecimento de um jovem perante protagonistas da mais alta responsabilidade do Estado e dossiers da maior importância para a nova Região Autónoma. Mas também confesso ter orgulho no facto deles me receberem e trabalharem com a atenção devida. Sentia-me crescido.
Com 27 anos fui secretário regional, aos 31 era secretário das Finanças e com 35 o
primeiro vice presidente do Governo.
É preciso recordar o contexto, por vivermos um período pós revolução, onde se procurava criar uma classe política comprometida com a Autonomia e o Desenvolvimento. Duas novidades na vida dos madeirenses. Devo confessar a minha admiração pela coragem de Alberto João Jardim em incluir nos seus governos gente tão jovem. Eu o mais novo de todos. Tantos procuraram dissuadi-lo de assumir esse risco …
Orgulho-me do muito de difícil que tive de enfrentar, mas também das coisas simples como mudar a cor dos táxis para amarelo.
Vivi e fiz parte activa do nascer dos dois maiores desafios da História moderna da Madeira: a Autonomia e a adesão à União Europeia.
Foi verdadeiramente difícil liderar a negociação para entrada na então Comunidade Económica Europeia, o maior “Adamastor” desta viagem autonómica. A apreensão era generalizada quanto à nossa capacidade para sobreviver à competitividade europeia. Difícil foi ainda dar vida, em 1987 depois de integrados na Europa, à Zona Franca da Madeira, hoje Centro Internacional de Negócios, adicionando o Registo Internacional de Navios. Criada em 1980, tivemos de esperar pela integração europeia para que o governo nacional aprovasse a legislação necessária.
Não posso deixar de dizer que idealizei e fiz a Horários do Funchal, o processo mais difícil que conduzi, a Cimentos Madeira, como construí o Porto de Porto Santo, ampliei o Porto do Funchal e fiz a Marina. Foi a ampliação do aeroporto de Santa Cruz, para a actual dimensão máxima, que me fez nos estudos de localização, de engenharia e procura por financiamento, ter o maior nível de dificuldade e ansiedade.
Tenho muito orgulho por dois primeiros ministros se terem lembrado de mim para o cargo de ministro e secretário de estado do meu país. No caso do convite de José Manuel Durão Barroso, não aceitei porque as minhas filhas eram muito jovens para mudarem para Lisboa. No caso do ministério da presidência, com o desporto, juventude e concorrência, não assumi porque o presidente Jorge Sampaio entendeu dissolver a Assembleia da República com vista a promover um governo socialista de José Sócrates. Tudo bem descrito na biografia de Jorge Sampaio e no livro de Pedro Santana Lopes. Teria sido o primeiro madeirense a ser ministro em democracia.
Para o fim ficaram os mais importantes: família e amigos. Foram o suporte de tudo o que aconteceu. Sem o saberem ajudaram mais do que imaginam. Como alguns companheiros de elevado estatuto político e humano. Alguns que nem de cá são. Ficaram-me a conhecer e foram de um apoio extraordinário.
Tive amigos famosos no mundo. Desde logo, José Manuel Durão Barroso, líder do PSD, primeiro ministro e presidente da Comissão Europeia. Tenho muito orgulho nesta relação muito amiga. Fazia me impressão ter um amigo que falava com o George Bush, os principais líderes europeus e convidava-me para jantar. Foi assim que me levou a refeição no Tivoli com o turco todo poderoso Tayyip Erdogan.
Severiano Ballesteros foi o amigo mais mediático, reconhecido em todo o lado que fôssemos. Com ele muito viajei. Uma estrela mundial que me fez conhecer gente muito famosa. O seu funeral foi, em 2015, no dia do meu aniversário. A minha vida teria tido um ritmo bem diferente se não tivesse partido tão cedo.
Marcelo Rebelo de Sousa foi a terceira vedeta na minha vida. Visita da minha casa no Funchal, acompanhei com sucesso na chefia da Nova Esperança, tendência dentro do PSD antes da era Cavaco. Faziam parte Pedro Santana Lopes, José Miguel Júdice e Durão Barroso. Hoje em dia sou o único que fala com todos eles.
Curioso foi Marcelo me ter convidado para integrar a sua comitiva à China, em 2019, e desse modo ter jantado no Palácio do Povo em Pequim com Xi Jinping: um dos dois maiores líderes mundiais.
Dá-me enorme satisfação ser amigo e compadre de Dionísio Pestana, empresário de outra galáxia. Tenho saudades da estima pelo dr. Nélio Mendonça, um forte amigo mais velho.
Diverti-me imenso nos ralis, principalmente quando, como co-piloto, venci o Rali da Madeira e ajudei na construção da pista de karting. O golfe e o futebol foram, por sua vez, duas fortes paixões. Adoro o Nacional e vivi intensamente o golfe. Recuperei para o Clube a posse do campo de golfe do Santo Serra e tornei-o um clube líder de competições nacionais. Ganhou tudo o que havia. Infelizmente assim já não é. Mas dá-me satisfação saber que sou o verdadeiro responsável por haver golfe em Porto Santo. Como serei se for em frente o projectado campo para a ribeira do Faial.
Não tenho espaço para mais. Desculpem mas queria deixar este registo. Para memória futura e para curiosidade de uns tantos que admiro por me seguirem nesta página.