Destino: Madeira
Nos últimos meses, tenho dedicado esta rubrica a múltiplos destinos onde os madeirenses formaram comunidades além-fronteiras, desde o Brasil até aos Estados Unidos da América. Nesses lugares, criaram autênticas ilhas capazes de matar saudades e amenizar a distância, uma distância que, com o tempo, se transformou também num espaço de idealização do que ficou para trás.
Voltar à “casa” no verão é, para muitos emigrantes, um objetivo que lhes dá força para suportar longos meses de trabalho árduo nos países de acolhimento. É um regresso a um lar que, embora já não seja verdadeiramente o nosso – e incluo-me aqui, enquanto emigrante –, continua a ser, de certa forma, um porto seguro. Um porto que evoca memórias que, por vezes, se enchem de ausências: dos que partiram, dos que não pudemos abraçar ou de quem não nos pudemos despedir devido a essa mesma distância.Regressar a este lar feito de memórias aquece a alma. Sim, é um lugar muitas vezes idealizado, pois o ser humano tem essa tendência de acreditar que o tempo passado foi melhor – e, para alguns, de facto foi, dada a dureza que a vida tantas vezes impõe. É voltar a uma casa que deixou de ser nossa porque já não guarda os nossos passos diários; afinal, construímos vida longe dali. Contudo, as suas paredes continuam a preservar recordações únicas e inesquecíveis. Mesmo que muitos regressos tragam um toque de amargura, voltamos pelo respeito às nossas memórias, aos nossos, porque o lar não é apenas a terra, mas sim os afetos. E nós pertencemos aos nossos afetos e ao lugar onde eles estiverem.Seja idealizado ou não, voltar à Madeira nas férias é, para muitos de nós, a pausa essencial para recuperar forças. E, ainda que saibamos que já não é o nosso lugar de vivência diária, nunca deixará de ser um dos nossos cantinhos.Ainda assim, de uma forma ou de outra, a Madeira continua a ser uma referência: os abraços que guardamos o ano inteiro; os colares de rebuçados nos arraiais; o sabor inconfundível de uma espetada com bolo do caco, e o milho frito que não pode faltar. Tudo isto compõe o mapa das lembranças, essa rota que leva muitos de nós, ano após ano, a desejar o regresso. Nem que seja para nos perdermos no saudosismo dos tempos passados, rever velhas fotografias, visitar os nossos, ou levar flores ao cemitério. Cada um de nós leva consigo uma estampa da Madeira, essa imagem que aquece a alma e nos garante que, naquele cantinho do mundo, haverá sempre um lar à nossa espera. Eu, por exemplo, jamais esquecerei o meu avô João a acenar-me do terraço do aeroporto, com o seu boné, naquela despedida que se gravou como eterna.