Saúde Mental Masculina
Sabia que junho é o mês dedicado à saúde mental masculina? Provavelmente não. E isso diz muito sobre a forma como continuamos a ignorar um tema que é urgente, importante e que toca (e termina) tantas vidas. A saúde mental dos homens fala-se pouco… quase nada na verdade… Quando se fala, muitas vezes é com preconceito, desinformação ou indiferença. Não porque a dor dos homens não exista — mas porque, desde muito cedo, eles foram ensinados a escondê-la, a sufocá-la, a silenciá-la.
Desde a infância, muitos ouviram frases como “faz-te homem”, “és um homem ou és um rato?”, “mantém-te forte, afinal não és um homem?”, “um homem não chora!”. Cresceram a acreditar que a vulnerabilidade é uma fraqueza, que demonstrar sentimentos é algo proibido para quem se quer “homem de verdade”. Assim, muitos aprendem a calar o que lhes vai na alma, esboçando um sorriso largo no rosto e proferindo “está tudo bem” vezes e vezes sem conta, mesmo quando lá dentro vai um turbilhão de emoções dolorosas, medos, angústias e solidão.
A maioria dos homens raramente recebe elogios no seu dia-a-dia. Quando faz algo bem, não é celebrado como uma conquista, mas sim encarado como “o seu trabalho”, uma obrigação. Quando falha, é cobrado. Esse vazio de reconhecimento contribui para que muitos se sintam invisíveis, esquecidos, sem valor para além daquilo que produzem. Esta falta de valorização aumenta a sensação de isolamento, diminui a autoestima, fragiliza ainda mais a saúde mental.
A realidade que enfrentamos é assustadora. Em 2023, segundo o Instituto Nacional de Estatística, suicidaram-se cerca 2.040 pessoas em Portugal. Destas, 1.660 eram homens — um número que não pode ser ignorado. No mundo, a cada minuto, um homem tira a sua própria vida. São mais de 500.000 por ano. É uma tragédia silenciosa que passa ao lado da maioria.
Homens como Kurt Cobain, Chester Bennington, Avicii, Robin Williams, Pedro Lima, Luís Aleluia, Francisco Stromp — homens talentosos, brilhantes, reconhecidos por todos — foram vencidos por uma dor invisível. Por detrás do sucesso e da fama, escondiam uma luta interna, muitas vezes invisível até para quem os rodeava. E por cada um deles, há milhares de outros, cujos nomes nunca ouviremos, mas que viveram a mesma angústia e se sentiram tão sozinhos quanto eles.
O suicídio é a segunda principal causa de morte em homens com menos de 50 anos. Mata mais que a guerra, desastres naturais e homicídio juntos! Mata 4 vezes mais homens que mulheres. Mesmo assim, menos de 20% dos homens com problemas emocionais procura ajuda. Porque o silêncio é um escudo, uma máscara. Porque muitos têm medo de serem julgados, de perderem o respeito daqueles que amam.
São muitos os fatores que contribuem para este sofrimento: doenças físicas como o cancro, infeções graves; doenças mentais como a depressão, bipolaridade, esquizofrenia, perturbações de ansiedade e abuso de substâncias; crises familiares; perdas — seja de pessoas queridas, emprego ou status social; experiências traumáticas como violência, abuso ou guerra. Estes fatores, combinados com a pressão social para “aguentar”, criam uma tempestade perfeita que muitos não conseguem enfrentar sozinhos.
Mas há algo muito importante que é preciso dizer e ouvir: perguntar a um homem “como estás?” não aumenta o risco de suicídio. Muito pelo contrário. É um gesto de coragem e cuidado, um ato simples que pode salvar uma vida.
Se um homem se sente cansado, deve permitir-se parar e descansar. Não é sinal de fraqueza, mas sim de sabedoria reconhecer quando o corpo e a mente precisam de pausa. Se a mente está ruidosa e desarrumada, cheia de pensamentos confusos e assustadores, é fundamental que fale com alguém — um amigo, um familiar, um profissional. Partilhar esse peso, sem medo ou vergonha, é um passo vital para encontrar apoio e esperança.
Precisamos de construir uma cultura onde os homens saibam que pedir ajuda não é um sinal de fraqueza, mas sim de força e coragem. Onde se possam mostrar vulneráveis sem serem julgados. Onde o diálogo aberto sobre saúde mental seja a norma, não a exceção.
Homens, não estão sozinhos. Nunca estiveram. E nunca estarão. Há sempre alguém disposto a ouvir, a ajudar, a caminhar ao vosso lado.
A tua vida importa. Sempre.