O pântano autárquico do PSD
Eleições e desânimo: é entre ambos que muitos madeirenses têm vivido ao longo dos últimos anos. A sucessiva repetição de atos eleitorais não tem servido para o que se preveria: renovar os protagonistas, as políticas públicas e, com ambos, a esperança num futuro melhor. As eleições autárquicas que se seguem, com finais de ciclo em vários concelhos, também poderiam indiciar o início de um tempo novo; infelizmente, não é o que se prevê em grande parte dos concelhos da Região.
No Funchal, o desânimo torna-se mais evidente quando tudo o que sobram são candidatos velhos e velhos candidatos. Depois de, há 4 anos, Pedro Calado ter subido a um palco no porto do Funchal para pedir a prisão dos seus opositores - sim, aconteceu mesmo - enquanto apresentava aquilo a que chamou de “Funchal Sempre à Frente”, tudo o que resta é andar para trás. Recordemos o que, no final, ficará desse projeto: nada - nem um dos seis vereadores eleitos pelo PSD e CDS - recordam-se de quando o “problema” de Miguel Silva Gouveia era a equipa que o acompanhava primeiro e a que escolheu depois?; nem um dos dois Presidentes do PSD que a Câmara teve durante estes quatro anos; nem uma ideia nova. Depois de se limitarem a destruir o que outros fizeram, a concluir o que outros iniciaram e a implementar o que outros pensaram, ao PSD restou escolher quem representa o antigamente: José Luís Nunes. O pediatra é certamente um médico excecional, mas o político é absolutamente banal e suspeito que totalmente inútil para o Funchal. Do Presidente da Assembleia Municipal não se conhece uma ideia para a cidade da qual parece que será inevitavelmente Presidente da Câmara - e sê-lo-á por falta de comparência: por falta de comparência de quem foi incapaz de apadrinhar e impulsionar, desde a primeira hora, uma candidatura de Miguel Silva Gouveia, o homem certo para liderar os destinos do município; do principal partido da oposição, que reapresentará um projeto com quase 20 anos, que já foi amplamente recusado uma vez; e do JPP, que decidiu aventurar-se com um candidato desconhecido da vastíssima maioria dos funchalenses.
O vazio político que se vive no Funchal não é diferente daquele a que se assiste em grande parte dos concelhos liderados pelo PSD.
Em Câmara de Lobos, o vazio deixado por Pedro Coelho, que trocou a Câmara por um lugar na Assembleia da República, onde não se lhe conhece qualquer intervenção digna de registo em defesa da Madeira, fez com que em quatro anos este concelho tenha conhecido três Presidentes e, em breve, um quarto. Depois de Leonel Silva e Sónia Pereira, será a vez de Celso Bettencourt, que, depois de tanto ameaçar, assaltará a presidência.
Na Ribeira Brava, depois da guerra entre o número dois do executivo e o número dois “de facto” afastado do lugar de Chefe de Gabinete, juntaram-se os trapinhos para um casamento forçado entre Jorge Santos e Hélder Gomes.
Na Calheta, a ambição de Nuno Maciel esbarrou na genética de Doroteia Leça e o primeiro acabou “no meio do campo” para a segunda terminar Presidente.
Em São Vicente, os Unidos viraram Desavindos e a fação de Fernando Góis ameaça defenestrar a juventude de António Gonçalves.
No Porto Santo, entre o poder eleito de Nuno Batista e o poder de facto do “regedor” Roberto Silva, tudo o que fica é o vazio de políticas a que a ilha continua sujeita, com os mesmos problemas a se prolongarem no tempo indefinidamente.
Em Santana, os coligados no Governo CDS e PSD não têm como se entender e Dinarte Fernandes terá pela frente Cláudia Perestrelo.
Em Santa Cruz, o JPP sofreu de “ideação suicida” durante semanas e quis afastar Élia Ascensão, a Presidente de Câmara que ocupou o lugar deixado vago por Élvio Sousa.
A tudo isto os madeirenses e porto-santenses vão assistindo da mesma forma: de braços cruzados, conformados, resignados com a ausência de alternativas reais - políticas, partidárias e pessoais. Já não sobra nada: nem sociedade civil, nem ambição ganhadora, nem soluções para os problemas reais. O pântano político em que a Madeira viveu ao longo dos últimos anos, mergulhada na ausência de lideranças e governada por um novo Governo velho, agrava-se diariamente. Assim vamos onde o PSD nos lidera.
Felizmente, há exceções de sentido inverso. Na Ponta do Sol, confirma-se que o município está bem entregue a Célia Pessegueiro e que ao PSD restam as assombrações de um passado a que ninguém quer voltar. Em Machico, confirma-se que há futuro na jovem equipa liderada pelo Alexandre Hugo Marques. No Porto Moniz, confirma-se que só há um candidato a sério: Olavo Câmara, que cresceu, vive, trabalha e investe no Porto Moniz, foi deputado nas Assembleias da República, Regional e Municipal, e está preparado para ser um extraordinário Presidente; do outro lado, um desconhecido, exilado no Funchal, sem qualquer pensamento ou experiência política. Que o exemplo dos autarcas destes concelhos nos sirva de farol de esperança.