Uma preocupante cedência
Quem paga a taxa exige mais do que explicações. Pede autonomia plena à RTP-M
Os madeirenses souberam pelo DIÁRIO que os quase 36 euros anuais que pagam obrigatoriamente de contribuição audiovisual, destinada a financiar o serviço público de radiodifusão e de televisão, não garantem direitos acrescidos no domínio das explicações, nem acesso a informação privilegiada sempre que há mudanças no modelo de gestão operacional. Era o que faltava, julgará o ingrato beneficiado desta imposta colecta, por sinal, endossada na factura energética, mesmo que o imprudente contribuinte pague já por um outro serviço de televisão e que, ironicamente, um qualquer apagão possa decretar que a emissão segue dentro de demorados momentos. Só que num instante fez-se luz e soube-se por estes dias que a emissão da RTP-M passou a ser controlada tecnicamente por Lisboa, imagine-se, por decisão da televisão da Madeira, o que contraria tudo o que é desejável por parte dos autonomistas convictos e até os propósitos dos profissionais que, por via de desabafos recentes, exortaram o Governo Regional a evitar que tamanha cedência acontecesse.
Descoberta a inacreditável submissão há quem insista na mensagem que a autonomia editorial da estação está salvaguardada, como se possível estar em causa e ser o cerne do problema, embora falte explicar de que vale a mesma se quem tem o comando na mão cortar a emissão regional ou se a automatização do sistema perverter a actualidade que não tem hora certa, nem se compadece do comando à distância.
Não sabemos se os operadores privados de televisão ou outros meios de comunicação social aproveitarão a escancarada oportunidade para investirem na Madeira em modelos alternativos à televisão convencional, mas como defensores dos superiores interesses dos madeirenses, mais do que explicações urgentes, exigimos autonomia plena à RTP-M. Para que nada condicione a excelência do seu trabalho de proximidade, para que a nossa realidade específica seja abordada por quem a conhece melhor, sem trocar nomes, nem inventar novas geografias, qualquer que seja a hora do dia e da noite do directo, e para que no futuro próximo “a nossa televisão” não continue a ser em muitas jornadas informativas, e durante 17 horas diárias, mera retransmissora da programação ou da informação dos restantes canais do universo do canal público.
Os silêncios cúmplices em torno desta matéria, a forma opaca como o processo foi gerido e a permissividade da Região num assunto tão relevante deviam motivar inquietação que se resumiu ao tradicional alvoroço político. Não fora um deputado eleito por Setúbal e os madeirenses só notariam que o espaço de programação regional depende dos botões de Lisboa quando houvesse um novo 28 de Abril, o dia em que o país ficou às escuras. E se não fosse alguma luz jornalística sobre o assunto, a esta hora vingaria a tese que em 50 anos de conquistas e tribulações a autonomia da Madeira é posta em causa por atitudes centralistas da República. A mais recente polémica está longe de ser apenas mais um episódio de uma novela sem fim, ora por via de imposições inqualificáveis de quem governa Portugal, ora por subserviências inadmissíveis dos insulares, mesmo que ambos os deploráveis papéis gerem forte contestação e desconfiança visceral.