Sustentabilidade: a hora da verdade para o turismo da Madeira
Mais do que um selo, a certificação é uma ferramenta de gestão, uma alavanca comercial e uma declaração pública de alinhamento com os tempos que vivemos
A Madeira tem vindo a assumir, de forma crescente, a sustentabilidade como um eixo estratégico do seu desenvolvimento turístico. Um dos marcos mais visíveis deste percurso foi a atribuição, em 2023, do selo Silver Certified pela EarthCheck, entidade internacionalmente acreditada na certificação de sustentabilidade. Esta distinção reflete o esforço coordenado das autoridades regionais em torno de políticas que colocam a sustentabilidade no centro da ação pública.
Mas, como sublinhou o Secretário Regional de Turismo, Ambiente e Cultura, Eduardo Jesus, «a certificação é, acima de tudo, um compromisso. Um compromisso com os agentes do setor, com a população, com o objetivo de contagiar, no bom sentido, toda a realidade regional». E esse compromisso, permito-me reforçar, não é exclusivo do setor público — nem se cumpre apenas com intenções. Cumpre-se com ação concreta, mensurável, visível — e exige o envolvimento dos stakeholders privados, que são parte essencial da transformação sustentável do destino.
Num território onde o turismo representa cerca de 26% do PIB e emprega mais de 20 mil pessoas, é indispensável que esse compromisso chegue a cada operador, a cada agente de viagens, a cada unidade de alojamento, empresa de animação ou transportes. A sustentabilidade não se constrói com slogans: constrói-se com alinhamento, responsabilidade e métricas. E isso, hoje, significa certificação.
Importa clarificar: a certificação EarthCheck atribuída à Madeira não é uma certificação automática de todos os agentes económicos nem um selo absoluto — é uma distinção atribuída ao destino enquanto sistema, avaliando indicadores à escala regional. É um caminho iniciado no bronze e que ainda pode (e deve) chegar ao ouro. Os Açores, com quem partilhamos desafios e ambições, já lá chegaram, mostrando que o objetivo é exigente, sim, mas alcançável com compromisso coletivo. Este sistema só funciona com informação real, vontade concreta e envolvimento ativo de todos.
O que se espera, então, das empresas e entidades num destino certificado?
Antes de mais, compromisso com o processo. Significa alinhar-se com os objetivos definidos pelo destino e reconhecer que a sustentabilidade é hoje parte da competitividade de qualquer negócio turístico. Espera-se também a adoção progressiva de boas práticas — e que todas as empresas, independentemente da sua dimensão, procurem também a sua própria certificação. Essa responsabilidade partilhada reforça a credibilidade do destino.
A sustentabilidade exige diálogo, articulação e corresponsabilidade. Não se impõe. Partilha-se!
Para agências de viagens e operadores turísticos, a certificação Travelife for Tour Operators é uma das opções mais sólidas e acessíveis. Foi desenvolvida com o setor e continua a ser supervisionada por um comité independente e multissetorial. Já no alojamento, opções como a Green Key, o Travelife for Accommodation, o Good Travel Seal (GTS) da Green Destinations ou a própria EarthCheck oferecem caminhos credíveis. No caso da animação turística, o GTS é uma opção perfeitamente acessível e adequada.
Ninguém diz que o processo é automático. Exige recolha de dados, definição de políticas, envolvimento das equipas. Mas é absolutamente exequível. E, como consultor que acompanha de perto estes processos, posso afirmar que muitas empresas, com dimensões e realidades distintas, têm vindo a percorrer este caminho com sucesso.
Mais do que um selo, a certificação é uma ferramenta de gestão, uma alavanca comercial e uma declaração pública de alinhamento com os tempos que vivemos. Além de um imperativo de consciência, é também um imperativo de negócio. Os operadores internacionais — com os quais a Madeira mantém uma relação comercial significativa — estão cada vez mais exigentes, tal como toda a cadeia de valor associada. E os próprios clientes, como revela o estudo da Booking de 2024, expressam essa tendência: 75% dos viajantes globais afirmam querer viajar de forma mais sustentável nos próximos 12 meses.
A Madeira iniciou o percurso. Agora é tempo de alargar o caminho.
A sustentabilidade não é um adereço. É o alicerce do turismo de amanhã. E o turismo de amanhã começa hoje. É, de facto, a hora da verdade para o turismo da Madeira.