Passados cinco anos: que impacto deixou a pandemia?
Em março de 2020, o mundo enfrentava uma pandemia, sem precedentes em tempos modernos, com confinamentos generalizados. Cinco anos depois, importa refletir sobre as mudanças que a pandemia – e a forma como foi gerida – trouxe.
Na esfera económica, a dívida pública global aumentou substancialmente, com a criação de programas para apoiar famílias e empresas e o reforço dos já existentes, com a dívida estatal global a aproximar-se dos 100% do PIB mundial.
Portugal seguiu uma trajetória distinta neste ponto. A disciplina orçamental tornou-se transversal a muito do espectro político e a nossa dívida desceu de 116,1% do PIB em 2019 para 94,9% em 2024, após um pico de 134,1% em 2020. Segundo a DREM, a Madeira passou de 90,8% para 71,6% entre 2019 e 2023 (pico de 115,2% em 2020).
Já na inflação, o cenário foi menos favorável, com níveis elevados devido a disrupções nas cadeias logísticas, aumento dos preços energéticos e, o que agora parece ser o maior fator, pela forte recuperação da procura impulsionada pelos apoios públicos e pela atuação tardia dos bancos centrais.
Estas disrupções tiveram recuperações assimétricas, mas, em geral, houve uma forte recuperação económica, com o desemprego a atingir mínimos de décadas.
Contudo, o maior desequilíbrio surgiu na habitação, com aumentos de preços muito superiores ao crescimento dos rendimentos das famílias, em particular em Portugal e na Madeira.
As novas construções não acompanharam o crescimento da procura, um problema que se arrasta desde a crise financeira da década anterior. Em 2001, a DREM registou licenciamentos para 1.701 edifícios e 5.107 fogos; em 2023, apenas 510 edifícios e 1.106 fogos.
Entretanto, a procura agravou-se não só com a entrada de novas gerações no mercado habitacional, mas também com o crescimento do alojamento local e a chegada de nómadas digitais e outros trabalhadores.
O mundo do trabalho também sofreu alterações, com a adoção parcial de modelos remoto e híbrido. Embora com impacto limitado em setores operacionais, noutros – e dependendo da geografia – a mudança foi significativa e duradoura.
A digitalização teve um impacto duradouro. Obrigadas a adaptar-se, muitas empresas investiram em tecnologias que permitiram reduzir custos, melhorar o arquivo e integrar sistemas com maior eficiência. Os apoios estatais foram materiais, mas o mercado passou também a olhar para estas soluções com uma abertura antes inexistente.
No ponto mais importante – a saúde – os efeitos foram particularmente negativos. Além da pressão durante os picos pandémicos, registaram-se aumentos de mortalidade significativos por causas não COVID, devido à suspensão de rastreios, cancelamentos e atrasos em tratamentos regulares.