O tempo e seus provérbios

Após um inverno “severo”, tivemos uma primavera inicialmente chorosa e, agora sorridente a dar as boas vindas ao verão que se aproxima.

Um pouco mais severo, foi de facto o último inverno, mas não comparado às invernias dos meus tempos de criança.

Recordo as tempestades dessa longínqua época, na freguesia de Santana, onde algumas casas de palha, não resistiam ao impacto da ventania e tombavam.

Nesses temerosos temporais, entre o bramir da tempestade, sobressaia o som do buzio, a qualquer hora da noite ou do dia, porque acreditava-se que, aquele som era sagrado e podia acalmar a fúria do tempo. Lá no meu sítio, reuniam-se algumas pessoas em oração na casa da Mariquinhas Sá, implorando ao bom Deus, que acalmasse a fúria do tempo. Também era o buzio, que tocado na casa desta devota, alertava os crentes para aderirem, a este ato de fé.

Não havia nenhum serviço de proteção, que acudisse a qualquer catástrofe, cada um ficava entregue à sua sorte. Também não havia boletim meteorológico que prevenisse as intempéries, que se aproximavam.

A sabedoria popular dos mais antigos, através do aparecimento de determinadas nuvens, fazia as suas previsões, com três dias de antecedência aproximadamente e, pouco falhavam.

Essa mesma sabedoria, criava os seus provérbios, que ajudavam a memorizar certos eventos, substituindo assim, a tinta e o papel já que, pouca gente sabia ler.

Num seu provérbio popular, diz o povo e com razão:

“março marçagão, de manhã inverno, de tarde verão”.

As intempéries, que fustigaram o último mês de março, sem prescindirem de algumas tardes de sol, fizeram jus ao referido provérbio.

Em “abril águas mil”.A abundância das chuvas de abril, foram razão para mais um provérbio.

Chuva esta, útil na fertilização dos terrenos agrícolas, como elucida um outro ditado:

“Chuva de abril, enche alqueire e barril”.

Num alerta para o frio de abril, assim reza o adágio:

“Em abril, a velha arde o canzil”

Quando as primeiras chuvas do após verão demoravam a aparecer e o estio se prolongava, então temia-se que o inverno fosse mais rigoroso e, o provérbio então fazia fé:

“Verão comprido, inverno temido”

Pela tarde:

“Céus vermelhos a poente; amassar e trazer gente”. Sinal de sol

“Céus vermelhos a nascente; pica os bois e foge sempre”. Sinal de chuva

“abril frio e molhado, enche o celeiro e alimenta o gado”

“Orvalhadas p’lo São João, não dá palha, nem dá grão.”

“Verão de São Martinho, é pequeno, mas é bonzinho”.

José Miguel Alves