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Guerra Israel – Irão (perspectivas de futuro?)

Nenhum analista sério consegue “prever”, realmente, o resultado de uma guerra. Quanto muito, é possível falar de cenários e probabilidades, com base em comportamentos passados dos protagonistas e na correlação de forças e incentivos diplomáticos.

Das diversas guerras actuais, três há que preocupam o mundo e, em especial, a Europa. Gaza, Ucrânia e, agora também, Irão. Sendo que, em duas destas, há um protagonista comum: Israel.

Como é sabido, na noite de 12 para 13 deste mês de Junho, Israel lançou a “Operação Leão Crescente”, bombardeando alvos militares e nucleares iranianos, matando altos chefes da Guarda Revolucionária e 9 cientistas. Primeiro uso massivo da força israelita em território persa, desde 1981.

Mostrando alguma capacidade em saturar a defesa antiaérea israelita, a 13 e 14, o Irão disparou mais de 150 mísseis balísticos e 100 drones contra Israel (“Operação Promessa Verdadeira III”). Telavive foi atingida por alguns desses projécteis; alguns mortos e, pelo menos, 63 feridos confirmados. No Irão, o número de mortos e feridos não é conhecido, mas terá sido, certamente, maior.

Dando sinais de que o ataque iria continuar, no dia 14, Israel pediu à população iraniana que evacuasse zonas junto a fábricas de armas e manteve o espaço aéreo nacional fechado pelo 3.º dia.

Podemos, talvez, considerar 4 cenários possíveis, no futuro desenrolar dos acontecimentos:

1.º – “Golpe de choque” curto em que Israel prossegue ataques cirúrgicos por mais 1/2 semanas, visando laboratórios e bases aéreas; o Irão responde com salvas de mísseis, mas evita atingir forças dos EUA para não arrastar Washington. Mediação silenciosa de EUA, Emirados Árabes Unidos e Omã leva a cessar-fogo tácito no fim de Junho.

2.º – Guerra limitada, mas prolongada. As trocas de fogo continuam durante todo o Verão, porém “limitadas” a Israel-Irão; Hezbollah e Houthis intensificam, mas não “abrem” novas frentes. O mercado petrolífero estabiliza em torno dos 125 US$; inflação europeia reaquece. O Turismo no Médio Oriente colapsa; as rotas Lisboa-Dubai (e outras) sofrem cancelamentos.

3.º – Escalada regional multifrontal. O Irão decide atacar bases com tropas norte-americanas no Iraque/Kuwait; EUA intervêm. O Golfo Pérsico fecha parcialmente; 20% do petróleo global fica retido no Estreito de Ormuz. O Brent atinge valores superiores a 150 US$; recessão técnica na zona euro; NATO activa planos de protecção a infraestruturas críticas.

4.º – Escalada nuclear (hipótese remota). Israel pondera usar ogivas tácticas contra Natanz/Fordow se a avaliação indicar “quebra de contenção” nuclear iraniana; Irão ameaça retaliação assimétrica global (ciberataques, terrorismo). A ONU convoca sessão de emergência; China e Rússia propõem acordo de “suspensão de enriquecimento de urânio para o fim dos bombardeamentos”. Mesmo “baixa”, esta probabilidade é o principal factor psicológico nos mercados, empurrando ouro e “bitcoin” para máximos históricos. E o preço do petróleo e derivados, também.

Washington procura a posição “ajudar sem aparecer” – fornecer guarda-chuva de mísseis, inteligência orbital e pressão económica, mas negar envolvimento directo, para não legitimar ataques iranianos às cerca de 45.000 tropas que mantém do Golfo ao Levante. O truque pode durar dias; se um drone iraniano cair num quartel/base americana, a postura de “terceiro” poderá “evaporar-se”.

Há cinco indicadores práticos que permitirão seguir o evoluir dos acontecimentos:

- Fluxo de navios no Estreito de Ormuz (MarineTraffic) – qualquer queda > 20 % é prenúncio de cenário 3.

- Preço “spot” do Brent (actualmente em $74,23 por barril) – linha psicológica: 120 US$.

- Alertas da IAEA (Agência Internacional de Energia Atómica) – se a agência reportar danos à contenção de Natanz/Fordow, o risco nuclear sobe.

- Número de voos diários em Ben Gurion (Telavive) – será um bom termómetro de normalização.

- Índice VIX (CBOE Volatility Index - Índice S&P 500 VIX) – saltos acima de 30 pontos indicam “stress” financeiro global.

Ao cidadão comum resta estar atento, com a sensação de que nada poderá fazer para alterar a situação de risco multifactorial que se vive actualmente.