A R. A. Madeira e a metáfora do sapo cozido
Diz a história que “se jogarmos um sapo numa panela, a enchermos com água fria e aos poucos a formos aquecendo, é natural que o sapo fique estático e não reaja. Irá se adaptando, sem perceber que a água vai fervendo aos poucos… levando-o à morte”.
A Região Autónoma da Madeira (RAM) enfrenta desafios significativos que afetam não só a sua economia, mas também o seu meio ambiente e a qualidade de vida dos seus cidadãos. Tais circunstâncias obrigam a que se reflita sobre a necessidade de uma conscientização crítica acerca do modelo económico muito próximo do neoliberal, adotado pelo governo regional e suas consequências a longo prazo, propondo alternativas sustentáveis que beneficiem tanto a população madeirense, como o ecossistema do arquipélago.
Nos últimos anos, a RAM tem sido embalada num modelo económico que prioriza o crescimento imediato e em massa, em detrimento da verdadeira e imprescindível sustentabilidade. Embora essa abordagem possa proporcionar empregos temporários e (uma aparente) prosperidade, ela ignora efeitos colaterais profundos e prejudiciais que impactuam no ambiente e, consequentemente, na vida dos residentes. Para o quadro atual, muito contribuiu o modelo económico adotado, que enfatiza uma certa desregulação, e tendencialmente, a minimização da intervenção do governo na economia. Esta abordagem, aplicada em várias dimensões da sociedade madeirense, trouxe à tona questões graves, como o aumento do turismo de massas, pressão sobre recursos naturais, e a inevitável degradação ambiental. O modelo económico instalado, ao oferecer empregos de curto prazo, costuma resultar em condições de trabalho precárias e muitas vezes exploradoras. A promessa de desenvolvimento rápido gera um ciclo de dependência que afeta a qualidade de vida dos cidadãos, podendo até levar à falta de segurança e estabilidade. Continuamos a assistir à exploração desenfreada das belezas naturais da RAM para as indústrias do turismo (e da construção civil), assim como à degradação dos ecossistemas locais. O uso insustentável dos recursos hídricos, o desmatamento, e a poluição têm consequências devastadoras, que ameaçam não apenas a biodiversidade, mas também a saúde e o bem-estar da população. Um indicador demonstrativo e claro dessa pressão de massas, é o fato de a população residente ter vindo gradualmente a abandonar a visita de certos locais, nomeadamente levadas e outros percursos, que até então eram de visita constante. É assim necessária uma Nova Política Económica, e para tal há que primeiro promover a Consciência Crítica. É fundamental que os madeirenses desenvolvam uma compreensão clara das implicações a longo prazo das atuais escolhas económicas. A educação e a sensibilização devem ser pilares centrais, promovendo um debate público sobre a sustentabilidade e os futuros possíveis para a RAM. A implementação de políticas que priorizem práticas económicas sustentáveis deve ser uma prioridade. Isso envolve investimentos em energia renovável, agricultura biológica, e turismo sustentável que respeite e conserve os recursos naturais da região, nomeadamente criando uma rede de transporte públicos capaz, onde o turista seja incentivado/”obrigado” a utilizá-los. Fomentar o empreendedorismo local e modelos de negócios que valorizem o capital humano e os recursos sustentáveis é crucial. Programas de capacitação profissional, incentivos a empresas locais e a promoção de produtos madeirenses devem ser priorizados. Concluindo, a RAM está num momento crucial, onde a manterem-se as escolhas feitas hoje, moldarão de forma irremediável o futuro do arquipélago. É imprescindível que os madeirenses reconheçam o impacto real das políticas económicas adotadas e se unam na busca por um modelo que priorize a sustentabilidade e o bem-estar da comunidade. A construção de um futuro próspero e ecológico para a Madeira depende da mudança das mentalidades e práticas atuais. A Madeira merece um futuro que respeite tanto o seu povo, quanto o seu rico património natural e a mudança começa com a tomada de consciência. A sustentabilidade deve ser o pilar central do desenvolvimento económico na Madeira. É vital que todos os madeirenses compreendam que o verdadeiro progresso não pode ser alcançado à custa do devastar do meio ambiente. É urgente que os cidadãos unam forças na construção de um futuro sustentável, garantindo que as riquezas naturais da Madeira sejam preservadas para as gerações futuras, onde se incluem, lembrem-se, os filhos das atuais.