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Camões e as conversas com os jovens no Centro Cultural Anjos Teixeira

Pois ficais sabendo que eu sou Luís Vaz de Camões, proclamado monarca da língua portuguesa pelo próprio Teófilo de Braga e, até fizeram na data da minha morte um feriado dedicado a Portugal, no dia 10 de Junho

Eu já não sou deste mundo, já faço parte do imaginário, tu me vês como tu me queres ver!

Jorge de Sena em 1973 escreveu um poema sobre Camões na ilha de Moçambique que se transcreve parcialmente: a ilha é pobre e já foi rica, era pobre quando Camões aqui passou primeiro, cheia de livros a cabeça e lendas e muito estúrdia de Lisboa Reles. Naqueles tempos se fazia o espanto desta pequena aldeia citadina de brancos, negros cristãos e ateus na pequena capela do Baluarte jazem aqui em lápides perdidas os nomes dos heróis de toda essa gente que, como hoje os negros, se chegava ás rochas baixava as calças e deixava ao mar a mal cheirosa escória de esta vivo.

E de zarolho não podias ver distâncias separadas e nada mais: O Paraíso e as Ilhas, homens, mulheres, o amor que mais se inventa e uma grandeza que não há nada.

Sabias, caro Tobias que falei da Madeira nos Lusíadas? Foi na estância do canto V, foi na altura em que Vasco da Gama aportou à cidade de Melinde e é recebido pelo Rei.

Escrevi assim: Passamos a grande ilha da Madeira, que de muito arvoredo assim se chamadas que nós povoamos a primeira, mais celebre pelo seu nome do que pela sua forma.

Mas esta ilha está de facto repleta de natureza exuberante, que me fez lembrar o soneto que escrevi assim: Alegres são os campos verdes arvoredos, claras e águas frescas de cristal, quê em vós debuxais ao natural, decorrendo da altura dos rochedos…um soneto sobre a relação entre o homem e a natureza.

Queres saber caro Thomas: enfim diverti-me muito naqueles tempos e não te esqueças Catarina dos beijos, das pupilas, dos sentidos e das coisas boas da vida. Conheci toda a espécie de mulheres e beijei muita boca com longa profundidade

Retratei Lianor (não Leonor), com um dos textos mais vivos da literatura a redondilha -descalça vai para a fonte Lianor pela verdura, vai formosa e não segura… era trémula, e a sua libido aumentava quando me via á distância.

Caro Carlos, tu que tanto queres lutar pela transformação do Mundo, lembra-te: Todos os homens podem vir alcançar grandes coisas, aquilo que não podem é dominar o passado- que pensamento mais pessimista. Olha que eu passei…por tanta coisa, perdi um olho na guerra, vivi entre exílios pobreza e nunca desisti da minha arte.

Sabes Juan, o que mais me chateava era a lagarta das más-línguas, que insistia em roer as vidas alheias!

Em Goa fui preso por publicação de sátira anónima, que criticava a corrupção local.

Em Moçambique fui preso o capitão exigiu repentinamente o pagamento de duzentos cruzados e, que não tinha meios para pagar. Vivi pobremente nessa ilha durante dois anos.

Na velhice vivi tanta pobreza, se não fosse o Jan chamado António, que veio da Índia comigo, que de noite de porta em porta pedia esmola, para me ajudar a sustentar eu não teria sobrevivido. A vida ganha sentido quando encontras quem nos ajuda a erguer a cabeça.

Não te esqueças Joaquina, perdi um olho na guerra, fui preso injustamente, passei fome, vi a morte a levar amigos e meus amores e nunca deixei de escrever ou enfrentar o mundo, e de ficar amargo, mas se não o tivesse feito não teria poesia que atravessasse séculos.

Não me leves a mal, ama-te a ti própria, luta e aprende sempre. Mandela disse: Eu nunca perco, ou ganho ou aprendo.