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Não se esqueça da sua cookie

Não posso ser o único que se questiona sobre o porquê de, sempre que entro num novo site – ou, por vezes, no mesmo site – ter de clicar em aceitar as cookies do dito site.

Este botão, que presumo ser importantíssimo por todos os sites pedirem o meu consentimento, é normalmente acompanhado por uma parede de texto extremamente técnico e, por vezes, os mais exóticos, dão-nos a possibilidade de fazer uma escolha personalizada de cookies.

Se a isto juntarmos os compêndios de termos e condições que todos aceitamos quando entramos, registamos uma conta ou instalamos um produto, assinamos milhares de contratos ao longo dos anos.

Não posso ser eu o único que carrega em aceitar sem saber exatamente a que estou a anuir. Aliás, sei que não sou o único, porque todas as pessoas com quem falo encolhem os ombros e dizem que é só clicar que sim. Perguntem aos vossos amigos e familiares se leem estes textos e o mais provável é questionarem a vossa sanidade.

A ciência indica o mesmo. Um estudo de 2008 da Carnegie Mellon indicava que a política de privacidade média tinha cerca de 2.514 palavras – ou aproximadamente 10 minutos de leitura – e que o internauta médio visitava cerca de 1.462 websites por ano. Com estes pressupostos, seriam necessários cerca de 244 horas anuais – 76 dias úteis de trabalho de 8 horas – para ler os termos.

A conclusão lógica é que ninguém lê os termos. Quase todos aceitamos as cookies sem grande reflexão. Se ninguém lê e todos aceitam, quem é beneficiado por isto?

E sim, tem razão quem diz que existem pessoas que sabem exatamente o que são cookies e que valorizam muito a opção de não aceitar. Essas pessoas também conhecem mil e uma maneiras de não aceitar ou limpar as ditas, tal como o faziam antes das diretivas europeias obrigarem a esta “escolha” do consumidor.

Este é mais um imposto ou taxa escondido – um dos famosos custos de contexto.

A Legiscope estima que os europeus gastem coletivamente cerca de 575 milhões de horas por ano a interagir com banners de cookies, estimando-se uma média de 1.020 banners encontrados por utilizador anualmente, com cada interação a demorar aproximadamente cinco segundos.

Para além do tempo perdido por parte dos utilizadores, estes banners e condições implicam custos relevantes em horas de desenvolvimento, consultoria jurídica e manutenção contínua destes sistemas, bem como dos que os têm de acomodar.

Tudo isto implica gastar tempo ou recursos para interagir com sistemas que acrescentam pouquíssimo valor ao utilizador e que poderiam ser ultrapassados se tratássemos os adultos como adultos e assumíssemos que, quem valoriza não aceitar cookies, arranjará a sua própria solução.