Onde anda a Lorena Bobbitt?
O meu maninho faz hoje 50 anos. Sempre foi um “influencer”, pois era ele que tinha as melhores bicicletas no Bairro dos Moinhos e todos queriam andar, ia aos ”cavalos” ao fim de semana, apesar de nunca o ter deixado andar no meu. Mas o Miguel era, nas palavras dos anos 80, um arregimentador e não havia sábado que não levasse vizinhos para uma aventura diferente no picadeiro do Caminho dos Pretos. Colecionava carrinhos de metal que de vez em quando me atirava à cabeça, eu enfiava canetas para lhes destruir os vidros. Brincávamos o resto da tarde e quando sentia a minha mãe chegar a casa pelas seis, lembrava-se de chorar para ela ter pena dele.
Teoricamente hoje teria milhares de seguidores nas redes sociais, mas de certeza que não se importava com isso. Ele só quer é ser feliz. Na prática tem uma montanha de amigos que acompanha os seus vídeos por todo o Reino Unido, mas isso não interessa nada. Damos umas boas gargalhadas quando os vimos e fazemos uns comentários, mas nada mais.
Se o meu maninho tivesse hoje 16 ou 17 anos e “engatasse” uma miúda, não era certamente para pôr num wattsapp e partilhar com os amigos. Nem lhe passaria pela cabeça convidar alguém para filmar cenas íntimas. Pela minha parte, era capaz de sei o que faria se o visse a fazer algo semelhante.
Hoje, em vez de se denunciar os culpados, aplaude-se a produção independente feita, literalmente, num vão de escada. Acho que perdemos todos o tino. Se alguém me enviasse tal coisa, juro que denunciava quem partilhasse. Os influencers de hoje nem sabem andar de bicicleta e muito menos viram alguma vez réplicas de bólides em metal. Aprenderam desde cedo a usar os telemóveis que os pais lhes davam para as mãos, para “não chatearem”. Nem nunca ouviram falar da Lorena Bobbitt, que podia vir a Portugal passar umas férias e resolver em três tempos os problemas destes pequenos.
Para os menores de 40 anos, a manicura que tinha 22 anos em 1993 usou uma faca afiada para tirar uma parte do marido que lhe fazia falta e desatou a conduzir pela cidade com a preciosidade na mão, até que numa curva a atirou pela janela e ligou para a polícia para a ir buscar. Rezam as crónicas que a peça chegou ao hospital numa caixinha de cachorro quente... mas sem salsicha, só com gelo. E fico por aqui na descrição.
Não quero com isto dizer que todas as miúdas devessem andar de faca, longe disso, porque é posse de arma branca, mas parece que um spray caseiro feito com pimenta e aguardente para pulverizar nos olhos não faz mal a ninguém e não ocupa muito espaço na bolsa. Foi uma amiga que me disse. Esse vídeo sim, eu partilhava, em todas as redes sociais, para ver se um dos 15 mil revisores de conteúdo bloqueavam as partilhas antes das 32 mil vizualizações que o filme da miúda de Loures teve. Podíamos aproveitar para partilhar vídeos em que os jovens pedem melhores condições de vida. Para não terem de andar a filmar palácios reais até aos 50 anos.