E o ranking das explicações?
Todos os anos, com a habitual divulgação dos rankings das escolas, baseados nos resultados dos exames nacionais, reacende-se o debate sobre mérito, equidade e qualidade na educação. A excessiva valorização destes rankings e a forma como se classificam as escolas acabam por funcionar mais como propaganda do que como uma representação fiel da realidade educativa e da qualidade das aprendizagens. Estes rankings não refletem todo o trabalho nem o compromisso de professores e técnicos especializados, que atuam em contextos sociais, económicos e culturais tão distintos e, muitas vezes, bastante complexos.
A avaliação é fundamental para aferir as aprendizagens e o progresso do sistema educativo. Embora reconheça que os rankings dos exames possam representar um indicador a ter em conta neste processo, avaliam, todavia, muito pouco e não são suficientes para definir se uma escola é boa ou má. São apenas uma parte de um retrato muito mais profundo e torna-se demasiado injusto quando nos apercebemos das tentativas de desvalorizar a outra realidade que vive para além destas classificações.
Se publicamos todos os anos rankings com base nas notas dos exames, porque não publicar também um ranking das escolas com base nas explicações que os estudantes frequentam fora do contexto escolar? Qual será a escola da Região que ocupará o primeiro lugar neste ranking? Não está em causa estas explicações, antes pelo contrário, torna-se é urgente reconhecer publicamente o seu papel decisivo nos resultados e não esquecer ou desconsiderar todos os alunos que, por dificuldades económicas, não têm as mesmas oportunidades de acesso a este apoio importante, apesar da sua dedicação no estudo e do excelente trabalho dos professores nas escolas. Seria um exercício de transparência educativa.
Seria interessante perceber em que ciclo de ensino os alunos com as melhores notas nos exames iniciaram as explicações: no secundário, no 3.º ciclo, ou até mesmo no 1.º ciclo? Um estudo aprofundado que analisasse este fenómeno poderia revelar muito sobre as desigualdades no sistema educativo e muito do que falta fazer ao nível da coesão social.
Não se trata de questionar quem recorre a estas explicações, este recurso não está em causa, de forma alguma. Como é óbvio, é de louvar o esforço das famílias que investem nas melhores qualificações e no futuro dos seus filhos. Contudo, para que possamos intervir de forma abrangente, estruturada e eficaz, em prol do sucesso de todos e de cada um dos estudantes, é igualmente importante reconhecer que nem todas as famílias valorizam a escola da mesma forma, nem todas possuem o mesmo grau de formação e de qualificações e nem todas as famílias têm o poder económico suficiente para pagar explicações aos seus filhos.
Para além das aprendizagens, combater aquelas desigualdades e investir na promoção da equidade no sistema educativo devem ser os focos principais da escola e da sociedade. A meritocracia apenas pode ser considerada justa quando todos os estudantes dispõem de iguais condições de acesso a recursos, oportunidades educativas e diversos mecanismos de apoio, permitindo-lhes desenvolver plenamente as suas capacidades e concorrer em igualdade de circunstâncias.