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Análise

Em suspenso

A Madeira entra, hoje, oficialmente em campanha eleitoral. Mais do que um ritual democrático, que se tem repetido mais vezes do que era previsível, este momento assume contornos de potencial encruzilhada, num contexto onde as incertezas se multiplicam. O que está em causa não é apenas o desfecho de uma eleição, mas o rumo que a Região tomará nos próximos anos, num ambiente de grande instabilidade política e social, agora também a nível nacional e global.

A Madeira tem vivido tempos conturbados. O desgaste político do governo regional, os desafios económicos e sociais e a necessidade de reconfiguração do panorama partidário criam um ambiente de alta tensão. A crise política, que resultou na dissolução da Assembleia Legislativa, evidenciou a necessidade de uma nova legitimidade e de soluções que respondam aos problemas estruturais da população. A campanha que agora se inicia terá de ser mais do que um desfile de promessas vãs; exige-se um debate sério e esclarecedor sobre o modelo de desenvolvimento sustentável para a Madeira, a necessidade de diversificação económica e o reforço da coesão social.

Em Portugal continental, o cenário não é mais animador. O Governo liderado por Luís Montenegro enfrenta uma sucessão de polémicas que minam a sua credibilidade e dificultam a sua capacidade de resposta aos desafios do País. A erosão da confiança pública na política portuguesa não é um fenómeno novo, mas tem-se acentuado perigosamente, alimentando, a abstenção, o reforço da extrema-direita e a descrença generalizada nas instituições democráticas. A relação entre Lisboa e as regiões autónomas, particularmente a Madeira, também não pode ser ignorada neste contexto. E fica, novamente, em suspenso.

Olhando para o cenário internacional, a incerteza é, infelizmente, a única certeza. O mandato de Donald Trump, nos Estados Unidos, coloca o mundo em alerta, dada a imprevisibilidade e decisões unilaterais que afectam o equilíbrio global. A Europa, a lidar com as consequências da guerra na Ucrânia e da crescente tensão no Médio Oriente, enfrenta desafios complexos na definição do seu papel geopolítico. Portugal, enquanto membro da União Europeia e aliado da NATO, terá de navegar estas águas turbulentas com cautela. O retrocesso em todos os campos é desolador. Como foi possível um recuo democrático tão nefasto?

É perante este contexto que os eleitores madeirenses têm uma enorme responsabilidade no próximo dia 23 de Março. Mais do que escolher um parlamento e um governo, estarão a definir a direcção que a Região seguirá num mundo em mutação. A escolha não pode ser feita com base em discursos fáceis ou promessas vazias, mas sim numa análise séria sobre quem tem a capacidade de enfrentar os desafios que se avizinham. A Região precisa de estabilidade, mas não de imobilismo. Precisa de renovação, mas não de aventuras inconsequentes, nem de servir de laboratório para eventuais entendimentos anti natura. O futuro está em suspenso e a decisão está nas mãos do povo.

Os ‘blocos’ estão definidos e os modelos subentendidos. De um lado o PSD e o CDS (e o PAN?), do outro o PS e o JPP. Conseguirão obter a maioria absoluta? No segundo caso haverá mais votos socialistas ou ‘verdinhos’? O busílis da questão é se tudo fica na mesma. Se não houver uma maioria clara dificilmente sairemos do impasse em que estamos mergulhados há tempo demais. Os principais actores partidários não dão nenhuma garantia de entendimento no caso de uma maioria relativa. Antes pelo contrário.