Offshore político e corrupção
Em todo o País, sobretudo no que diz respeito a lugares de governo, há uma depravação entre negócios privados e intervenção política. Mas, a Região Autónoma da Madeira ultrapassa tudo e todos na promiscuidade entre negócios e governação.
Portugal está confrontado com uma nova crise política em consequência de negócios e negociatas que deixam mal a democracia. Toda esta realidade é o resultado da escandalosa promiscuidade entre o mundo dos negócios e a governação, numa abjeta fusão entre o poder político e os grandes interesses económicos e financeiros. No entanto, se no resto do País essa perversão é brutal, ela tem nesta Região uma gravidade incomparavelmente maior.
A acrescida gravidade política quanto a um estado corruptível da governação nesta Região Autónoma deve-se ao offshore político que aqui se instalou. Esta Região Autónoma continua a ser o único enclave no País onde os favorecimentos políticos ganham vantagem. Este é o único lugar do País onde os detentores de cargos políticos não estão obrigados ao mesmo regime de incompatibilidades e impedimentos que se aplica no continente português e nos Açores. Apenas na Madeira e no Porto Santo existe, desavergonhadamente, uma banda mais larga para os negócios privados se amigarem com os governantes.
Esta Região não pode continuar a ser o pior exemplo da libertinagem entre o mundo dos negócios e a governação.
Esta Região não pode continuar a ser a campeã na suspeição e na perceção pública de práticas de corrupção, tráfico de influências e de criminalidade económico-financeira.
É, por isso, inadiável a política de combate à corrupção estrutural, sistémica, que já faz parte da natureza do regime cristalizado nesta Região.
A subordinação do poder económico ao poder político, inscrita na Constituição, e o combate à corrupção e à
criminalidade económico-financeira são problemas do regime democrático e da ação em sua defesa, bem como objetivos da luta por uma plena democracia nas suas dimensões política, económica, social e cultural. Portanto, na Região Autónoma da Madeira, com ainda maior gravidade do que no resto do País, o combate à corrupção e à criminalidade económico-financeira é um combate a travar em defesa do regime democrático e pelo aprofundamento da democracia.
Esta Região precisa, com a maior urgência, de um regime de incompatibilidades e impedimentos para detentores de cargos políticos que acabe, de uma vez por todas, com o offshore político que aqui impera. Esta Região não pode continuar a ser o único enclave no País, o único lugar onde é permitido um regime de privilégio e favorecimento para quem exerce cargos políticos.