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Madeira

Impõe-se “levantamento muito objectivo” das necessidades do novo hospital

Gil Bebiano refere os cerca de 15% de médicos que se vão reformar até à entrada em funcionamento da nova unidade de saúde e fala da urgência em apurar quais as áreas mais carenciadas para agir

Gil Bebiano falava à margem de um encontro com médicos da Região promovido pela Ordem dos Médicos. 
Gil Bebiano falava à margem de um encontro com médicos da Região promovido pela Ordem dos Médicos. , Foto ML

O presidente do Conselho Médico da Região pede uma espécie de 'pacto' para a Saúde na Madeira entre as várias forças políticas, de modo a garantir uma "constância de perspectivas" nos próximos anos.

O presidente do Conselho Médico da Região Autónoma da Madeira da Ordem dos Médicos voltou, esta sexta-feira, a reconhecer a falta de médicos que a Região tem em algumas especialidades, colocando, à cabeça, a Radiologia, a Gastroenterologia, a Pedopsiquiatria ou a Neurocirurgia, todas elas com falta de médicos em todo o País.  

Foi à margem de um encontro do médicos do Serviço Regional de Saúde (SESARAM), que aconteceu no início da tarde desta sexta-feira e que contou com a presença do presidente do Conselho Regional Sul da Ordem dos Médicos, Paulo Simões, que Gil Bebiano, de olhos já postos no novo Hospital Central e Universitário da Madeira, falou da necessidade de se avançar, no imediato, para um “levantamento muito objectivo” das carências que a Madeira vai ter com a entrada funcionamento dessa nova unidade de saúde.

“Já se devia estar a fazer um levantamento muito objectivo, para já das pessoas que se vão reforçar daqui até ao hospital abrir, que são cerca de 10 a 15% dos actuais profissionais; saber quais são as áreas mais carenciadas e trabalhá-las com convites direccionados”, apontou. “Não é esperar que o concurso traga alguém para aqui, é contactar”, salientou de seguida.

“Soube que há dois ou três profissionais desta área que não estão satisfeitos no sítio tal, devo contactá-los e fazer contratos aliciantes, em todos os aspectos”, embora reconheça os limites existentes. Pede, por isso, um redimensionar dessa abordagem.

Sobre esse levantamento propriamente dito, Gil Bebiano defende que a sua realização deve ser colectiva. “Os médicos podem contribuir, a Secretaria [Regional de Saúde e Protecção Civil] tem de ter iniciativas e nós [Ordem dos Médicos] cá estaremos para interligar estas coisas”, disse, salientando a sua postura de “crítico construtivo”, alertando para o que deve e pode ser melhorado, tornado a gestão “mais hábil, mais eficaz, mais favorável ao doente”.

O representante máximo da Ordem dos Médicos na Madeira mostrou-se, também, preocupado com o facto de cerca de 30% das vagas regionais dos dois últimos concursos para a especialidade terem ficado por preencher. Pede, por isso, uma postura mais pro-activa de quem tem poder de decisão na área da saúde na Região. “Há muito trabalho a fazer”, apontou, não deixando de notar a diferenciação “pela positiva” da Madeira em relação ao continente no que toca às condições de trabalho oferecidas.

No seu entender, o “trabalho de aliciamento” dos médicos mais novos para se fixarem na Região tem de ser melhor concretizado, fazendo valer não apenas as mais-valias financeiras, mas também os benefícios do novo hospital que está a ser contruído, bem como a capacidade formativa e académica a ele associada.

Para Gil Bebiano, esses factores devem ser vistos como decisivos no momento de um jovem médico escolher o local onde vai fazer carreira. “É uma questão a trabalhar”, lembrando as “benesses sociais” que eram concedidas no tempo em que resolveu escolher a Madeira para se fixar. “É preciso dar a conhecer o que temos”, defende o responsável máximo da Ordem dos Médicos na Região, “algo que às vezes não se faz”.

“Eu sou do tempo, e não tem muitos anos, que o poder político hostilizava a Universidade da Madeira. Aliás, criou-se um fundo de captação de investigação científica à parte, para espoliar essa universidade. Isto tem uns 10 anos. Não há, ainda, uma interdigitação. E fiquei satisfeito quando vi que o novo hospital se irá chamar Hospital Central e Universitário”, apontou o médico, notando ser esse um argumento importante para captação de novos profissionais.

Sobre a relação público-privado, Gil Bebiano salienta que a mesma não deve ser olhada com desconfiança. Antes defende a necessidade de uma complementaridade entre ambas. “O público e o privado deixaram, há muito tempo, de ser vectores antagónicos. São vectores de interajuda. E ao Estado compete fornecer, no máximo, como está na Constituição, a saúde tendencialmente gratuita. E depois ser inteligente o suficiente para pagar a privados com custos reduzidos”, refere.

Nesse sentido, aponta como “possível, na grande maioria das prestações de serviços, designadamente cirúrgicas, que o Estado vá buscar prestações de serviços nos privados com custos mais reduzidos do que na sua instituição”. Ora, para o médico neurocirurgião, “o antagonismo entre estas duas vertentes da saúde deixa de existir. É um negócio que tem de ser gerido da melhor forma e a preceito dos dois. E sempre com o objectivo de melhor servir o doente. Custa-me, não me dá prazer algum dizer que o Estado vai fazer tudo e, depois, tenho listas enormes de espera para resolver, quando poderia fazer parcerias com os privados”.

A par disso, e olhando as propostas para a saúde apresentadas pelos vários candidatos às Eleições Regionais de 23 de Março, o presidente do Conselho Médico da Região pede uma espécie de 'pacto' para a Saúde na Madeira entre as várias forças políticas, de modo a garantir uma "constância de perspectivas" nos próximos anos. Gil Bebiano nota que algumas as medidas apontadas já estão no terreno e que outras até não são facilmente exequíveis, mas reconhece "conhecimento de causa" à maioria dos candidatos e vontade em agir. 

O Conselho Médico da Região da Ordem dos Médicos dá, esta tarde, as boas-vindas aos jovens internos que escolheram a Madeira e o Serviço de Saúde da Região para dar seguimento à sua formação, quer de âmbito geral, quer de especialidade. O presidente do Conselho Regional Sul da Ordem dos Médicos, Paulo Simões deslocou-se à Madeira para participar nessa cerimónia, agendada que está para as 19 horas, na sede daquela instituição, no Funchal.