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A Madeira precisa de mudar

No próximo dia 23 de março, a Região Autónoma da Madeira irá novamente a eleições legislativas, sendo a terceira vez em cerca de 18 meses. A instabilidade que se vive na Região decorre sobretudo do regime instalado pelo PSD, que governa a Madeira desde 1976, se revelar incapaz de gerar consensos ou negociar com a oposição, perdidas que estão as maiorias absolutas de outrora. Mas no atual contexto, existe outro fator que contribui decisivamente para o desgaste do atual executivo: o facto de termos um Governo Regional manchado por diversos processos judiciais em curso, em que o próprio presidente Miguel Albuquerque e vários secretários regionais são arguidos.

A avaliar pelas palavras de Miguel Albuquerque, a Madeira parece ser mesmo a terra onde se aplicam dois pesos e duas medidas, conforme melhor convém num determinado momento. Perante a Operação Influencer, defendeu imediatamente a demissão do Primeiro-Ministro António Costa, apelidando-a de “inevitável”. Já no seu caso, tendo sido alvo de buscas e constituído arguido por suspeita de corrupção e prevaricação, não se demitiu. Algumas semanas depois, aquando novos casos e novos arguidos dentro do seu Governo, não exigiu demissões aos seus secretários regionais.

Mas a instabilidade que se vive na Madeira não é apenas política. O modelo económico está esgotado, ou pelo menos, nos moldes atuais, não dá as respostas que os madeirenses precisam.

Senão vejamos: a Região Autónoma da Madeira é uma das regiões com maior taxa de risco de pobreza e exclusão social, está no top 3 de regiões onde o preço da habitação mais subiu tanto para aquisição como para arrendamento e tem dos rendimentos médios mais baixos do país. Nos últimos anos, mesmo com um crescimento assinalável dos dois principais setores de atividade, o turismo e a construção/imobiliário, não foi possível inverter estes indicadores. Existem desigualdades, agravadas pela falta de oportunidades e pela incapacidade de mudar. Ao fim de quase 50 anos a fazer tudo da mesma forma, o Governo Regional liderado sempre pelo mesmo PSD, ainda tenta atribuir a outros a culpa pela sua falta de competência e capacidade. Ao fim de quase 50 anos, a culpa não pode continuar a ser de outros, daqueles que nunca governaram e nunca viram as suas ideias implementadas.

As próximas eleições regionais devolvem novamente a palavra ao povo, sempre soberano. E é tempo de mudar.

Mudar de protagonistas, mudar de governo, mudar políticas e prioridades. Mas nesta enorme responsabilidade que recai sobre os madeirenses, há já uma certeza. Não basta retirar a maioria absoluta, não basta votar noutro partido qualquer, pois já vários traíram o eleitorado em anos recentes. Essa será porventura a grande lição que os madeirenses retiraram como vantagem na realização de várias eleições regionais.

Em 2019, foi o CDS que caucionou o regime do PSD, sendo que em 2023 o PAN formou um trio, mantendo tudo igual. Em 2024, já depois de Miguel Albuquerque ter sido constituído arguido, CDS e PAN voltaram a votar favoravelmente o Programa de Governo e o Orçamento Regional, viabilizados com abstenção do Chega. Está claro que CDS, PAN e Chega não são alternativas à governação do PSD, mas sim aliados. IL e JPP são incógnitas, pois até agora ainda não se viram na posição de fiel da balança, sobretudo o JPP que em momentos decisivos, como a Comissão de Inquérito em 2023 perante denúncias de Sérgio Marques, um ex-governante do PSD, optou incompreensivelmente por não participar e evitar o escrutínio à atuação do Governo Regional.

Uma verdadeira alternativa necessita de ter um histórico confiável, de programa de Governo consistente e exequível, e finalmente, de uma equipa com quadros preparados, tanto a nível técnico como político. O PS já o vem demonstrando desde 2019, com responsabilidade, competência e compromisso, e acima de tudo, com ideias claras sobre o que é necessário colocar em prática para mudar a Região Autónoma da Madeira. Têm a palavra os madeirenses!