DNOTICIAS.PT
Artigos

Mais do mesmo

Mais umas eleições regionais, mais do mesmo para a Madeira e para os madeirenses.

Mais das mesmas jogadas internas disfarçadas de “eleições”, que servem apenas para elevar caciques locais, sem qualquer relevância externa, a não ser a sua expressão eleitoral negativa.

Mais dos mesmos comportamentos pidescos, das mesmas perseguições e purgas a quem ousa pensar diferente, ou colocar um “like” fora de sítio numa rede social, promovidas pelos campeões das maiorias absolutíssimas internas.

Mais das mesmas estratégias erráticas de quem ora se abstém, ora aprova, ora vota contra, sem qualquer coerência.

Mais da mesma lei eleitoral completamente ultrapassada, que dificulta o voto a cerca de 50 mil madeirenses espalhados pelo Continente e pelo mundo.

Mais do mesmo desrespeito pela paridade, depois de tantos baterem com a mão no peito enquanto faziam juras de amor à igualdade.

Mais das mesmas lideranças e “candidatos” a presidentes do Governo, que vão sobrevivendo de queda em queda eleitoral.

Mais dos mesmos candidatos a deputados, das mesmas caras de sempre, dos mesmos cromos repetidos, das mesmas estrelas de companhia desconhecidas, dos mesmos regressos salvíficos, da mesma ausência de preparação política, capacidade combativa, representatividade partidária, ou local.

Mais da mesma falta de renovação geracional, onde os jovens são verbo de encher para segundas, terceiras, ou filas nenhumas.

Mais da mesma inexistência de representação local, negligenciada por uma Assembleia que trata a Madeira toda por igual, quando Sul, Norte e Porto Santo caminham a velocidades tão diferentes.

Mais das mesmas promessas adiadas, por razões injustificadas.

Mais das mesmas propostas que não convencem, nem cativam ninguém.

Mais da mesma forma de debater propostas: apressada, atabalhoada, encerrada em salas de Estados mínimos para problemas Gerais.

Mais da mesma fórmula usada, gasta e ineficaz, de salas fechadas no Funchal, fim-de-semana sim, fim-de-semana sim senhor, a falar para uma bolha política e mediática cada vez mais reduzida e desinteressada.

Mais da mesma dedicação à causa a tempo parcial, porque a vida tem mais que fazer, apesar de mudar a Madeira ser missão para muitos e a tempo inteiro.

Mais da mesma campanha resumida a cartazes ridículos nas ruas e publicações virtuais estéreis, sem qualquer contacto sério com as populações locais.

Mais da mesma incerteza sobre o dia seguinte às eleições.

Mais da mesma anunciada política de alianças incompreensível, onde todos se aceitam uns aos outros hoje, para no dia seguinte se renegarem mutuamente e converterem aos do costume.

Mais da mesma desvalorização dos partidos e das ideologias: afinal é tudo igual, esquerda, direita, extremos e companhia, porque chegar ao poder é que conta.

Mais do mesmo nos casos judiciais que nos envergonham, mas não mobilizam, porque não chocam.

Mais da mesma promiscuidade entre a política, os negócios e a justiça regional, em teias explicitadas em documentos processuais que deviam ser do conhecimento público e amplamente publicitados.

Mais do mesmo na Saúde, sem solução para a falta de consultas, exames, cirurgias, medicamentos e agora também sem mãos a medir no combate ao mosquito e à possível dengue.

Mais do mesmo na Habitação, um drama sem fim para qualquer geração, nível de rendimentos, ou profissão.

Mais do mesmo: das mesmas estratégias, dos mesmos protagonistas, das mesmas propostas, das mesmas opções. Mais do mesmo na vida partidária e política regional, à espera de resultados diferentes.

Mais do mesmo, porque os partidos deixaram de nos levar a sério e por isso não mudam, à espera que sejam os madeirenses a mudar.

O que esperar depois, então? Mais das mesmas escolhas de sempre. Mais da mesma abstenção que beneficia os de sempre. Mais do mesmo desinteresse coletivo. Mais da mesma ausência de qualquer sobressalto cívico que nos faça acreditar num futuro melhor, porque diferente. Mais dos mesmos resultados. Mais dos mesmos apontados como culpados: inimigos internos, bodes expiatórios responsáveis por todo o mal.

50 anos depois, por ação de uns e omissão de outros, mais da mesma Madeira de sempre.