Argoladas sem solução
Madeirenses impedidos de votar devem exigir à república mais do que explicações
Foi com sonora gargalhada que acolhemos os comentários dos doutos crânios centralistas que na noite televisiva nacional de terça-feira ignoraram o mais recente e despudorado atentado à democracia em Portugal. Uma omissão agravada com a lata dos que ousaram elogiar Marcelo Rebelo de Sousa pelo alegado regresso energético à sua vertente interventiva na vida do País, como se a intriga contribuísse para a afirmação da Nação valente e se o desleixo fosse coisa pouca. Por alguma razão as sondagens mostram que a bandalheira nacional se resolve com farda. A última realizada pela Instituto de Ciências Sociais e do ISCTE para a SIC e Expresso revela que, caso as presidenciais fossem agora, o almirante Gouveia e Melo venceria as eleições.
Os comentadores falaram de tudo. Dos absurdos áudios de Bruno Lage, da imprudência de Hernâni Dias e do colapso da Nvidia. Escapou-lhes os que na Região acham que se fazem casas com dinheiro que não existe, os que pedem ao governo abelhas de outro calibre, apesar do mel ser bom e os que preconizam um populista milagre económico assente na diminuição de impostos e da receita, prometendo ao mesmo tempo um aumento da despesa. Mas grave é não terem achado relevante que milhares de madeirenses continuem a não poder votar só porque o Presidente da República prefere inequivocamente o “paraíso” e a sua agenda, as ‘selfies’ e calendário, o que tem tanto de paradigmático, como de preocupante.
É este o País que temos, arrogante e simultaneamente miserável, mais focado na inevitável imigração do que na dramática demografia, no Arruda que viajou para os Açores sem malas porque as que tinha foram confiscadas do que na bagagem dos deputados, nos insultos do Ventura aos jornalistas do que nas incoerências do Chega, nas reacções hostis ao sentido crítico de Pedro Nuno Santos do que na relevância do que assumiu na entrevista que deu.
Este País não se dá ao respeito. E a prova é que há líderes partidários e autarcas que até desconfiam dos relatórios da Polícia sobre a criminalidade, imaginem, porque é mais baixa do que a realidade percepcionada. E também não honra os compromissos que assume. Não cumpre com as leis que produz, por vezes, à pressa e a pedido. Não gera confiança.
Para a história fica o facto da nova lei eleitoral ser para um dia que não agora, pois não vai aplicar-se nas Eleições Regionais Antecipadas marcadas para 23 de Março. Tudo porque a Assembleia Legislativa da Madeira foi dissolvida antes da entrada em vigor do diploma que foi votado por unanimidade nos parlamentos. E houve gente - que não pensa, mas quer ter palco - que não viu nesta argolada razão para “alarido”. O lugar dos negacionistas é junto de todos quantos traíram o que prometeram, que acham uma maçada lidar com os ilhéus e que nos colocam em quarentena permanente. Este tipo de gente, a que se junta a que semeia ‘fakes’ para colher dividendos, a que passa culpas a terceiros para não assumir nenhuma, a que prefere condenar do que presumir inocente quem é arguido e a que valoriza a mediocridade em vez do mérito, não devia ter lugar nas listas. Nem nas de candidatos, nem nas telefónicas.