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Vamos em crescendo

Um pouco no espírito de resumo do ano, já que esta é a minha última intervenção de 2025…

Este ano assistimos a uma série de tiros nos pés, e à constatação de comportamentos que, sendo tendências de há muito, viram uma consolidação e repetição inusitadas.

Assistiu-se, um pouco como em anos anteriores, a uma desvalorização da componente ambiental sem precedentes. Foram óbvios abusos, mas também negligência e desleixo, em áreas sensíveis como o Fanal, a Ponta de São Lourenço, o Arieiro, o Ribeiro Frio e o Rabaçal, entre outros.

Assistiu-se, um pouco como em anos anteriores, a uma valorização do número de visitantes por oposição ao rendimento que estes visitantes geram. Isto é particularmente visível no mercado de cruzeiros, em que os critérios priorizam que visita mais, e quem traz mais, em detrimento de quem traz melhor. Mas é também claro no número cada vez maior de voos de low costs, por oposição a voos de companhias de bandeira. E mesmo dentro das low costs, parece que se prioriza a que mais problemas traz, e a que mais comportamentos desviantes tem (Ryanair).

A administração de turismo parece priorizar os seus lobbies (construção civil e obras públicas), em detrimento dos seus públicos mais tradicionais e mais relevantes… os residentes e a sustentabilidade. Quanto mais será preciso para que a SRT e a DRT percebam que os madeirenses, em geral, preferem menos a pagar mais, e que turistas a mais estragam a Madeira para todos?

Assistiu-se, um pouco com em anos anteriores, à chegada à Madeira de mais rent a car, tornando a circulação, por toda a ilha, um caos, a que se junta um aparente abandono das regras mais básicas, de trânsito e de civilidade, a que a administração local só pode ser cúmplice, na medida em que nada faz e nada diz.

Assistiu-se, um pouco como em anos anteriores, a uma crescente prepotência e má-educação por parte dos titulares de cargos públicos, nomeadamente na Assembleia Regional. Gostava de lembrar a estes responsáveis que são eles que trabalham para nós, e os deputados são representantes de todos, pelo que desrespeitá-los é desrespeitar todos os madeirenses. Mas isto parece-me tão óbvio que não entendo como supostos responsáveis são incapazes de pensar antes de abrir a boca e deixar sair as maiores barbaridades e impropérios…

Os madeirenses, e nomeadamente os que trabalham no sector, estão cada vez mais desmotivados e insatisfeitos. Os madeirenses, em geral, cada vez mais se sentem estranhos na sua própria terra.

Não sei qual é a solução, a maneira de se livrar de um governo e de governantes prepotentes e incompetentes, que continuam a gerir aquilo que é de todos como se se tratasse de um bem e de um direito que é apenas de alguns… que se arrogam a uma visão única do que deve ser o futuro, uma espécie de pátria, religião e futebol que saiu de moda com o 25 de Abril.

A todos, um bom Natal, e um 2026 mais justo, mais sustentável, mais participado, mais democrático, mais inclusivo e mais equilibrado.