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Portugal é lugar "atrativo" para membros do crime organizado do Brasil

Foto DR/PJ
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O especialista em segurança Nivio Nascimento disse à Lusa que Portugal se tornou um destino "atrativo" para membros do crime organizado brasileiro devido à língua comum, à tranquilidade do país e à facilidade de ligação aérea.

"Portugal me parece muito atraente. A mesma língua, um país muito tranquilo, qualidade de vida boa, voos fáceis para o Brasil. Eu acho que é um cenário bem atrativo para essas pessoas, para esses operadores", disse à Lusa o especialista em segurança pública e prevenção ao crime no Brasil e no exterior, na sequência da detenção na semana passada em Cascais do brasileiro Ygor Daniel Zago, de 44 anos, traficante internacional de drogas conhecido como "Hulk" e ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), um poderoso grupo do crime organizado que nasceu na cidade de São Paulo, mas que se alastrou pelo país, continente e até na Europa.

"Ele é tido como um dos maiores traficantes internacionais do Brasil, estava com mandado expedido pela Interpol há muito tempo", resumiu o assessor internacional do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Este membro do PCC e a sua mulher foram detidos na semana passada, no âmbito de dois mandados de detenção internacional emitidos pelo Brasil, por crimes de associação criminosa, corrupção e branqueamento de capitais, tal como informou a Polícia Judiciária (PJ) portuguesa no sábado passado.

Os dois ficaram em prisão preventiva por decisão do Tribunal da Relação de Lisboa, estando a aguardar neste momento o processo de extradição, adiantou à Lusa fonte ligada ao processo.

"Os trâmites da eventual extradição dependem dos meios de colaboração entre países e seguem com acompanhamento para o regular trâmite do processo já em curso", disse, em resposta à Lusa o Ministério Público do estado de São Paulo, acrescentando que, assim que as autoridades brasileiras perceberam que os acusados estavam fora do território nacional, "requereram que a ordem de prisão fosse incluída na difusão vermelha da Interpol".

De acordo com Nivio Nascimento, este caso prova que "o crime não está só no território, não está na favela".

Demonstra que há vários criminosos que levam uma vida normal, especialmente os encarregados de lavagem de dinheiro e financiamento.

"É uma atividade que não precisa de estar ali na favela, ele [o criminoso] pode estar em qualquer lugar, especialmente na sociedade global que a gente vive hoje, hiperconectada", disse o especialista.

Formado nas prisões de São Paulo nos anos 1990, o PCC expandiu as atividades e hoje controla motéis, postos de combustível e até empresas de tecnologia financeira, usadas para lavagem de dinheiro do narcotráfico.

Nascimento elogiou o trabalho conjunto entre Portugal e o Brasil neste caso, até porque "esse é um dos entraves, essas pessoas que trabalham para essas economias ilícitas acabam circulando de jurisdição para jurisdição e conseguem escapar".

"E que bom que foi feita essa prisão, mostrando um pouco de uma mudança nesse enfrentamento do crime organizado no Brasil", acrescentou.

Para Nivio Nascimento, este deve ser o modelo de combate ao crime organizado, ao contrário do sucedido a 28 de outubro nos complexos de favelas da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, no qual pelo menos 121 pessoas morreram e o principal alvo da operação, um dos líderes da facção Comando Vermelho, Edgard Alves, conhecido como "Doca", conseguiu fugir.

"Não precisa de operações como a gente viu no Rio de Janeiro. A gente só viu nos últimos 40 anos o crime crescer com essa abordagem", disse.

O diretor nacional da PJ portuguesa admitiu na terça-feira que o número de pessoas com ligações a grupos de tráfico de droga do Brasil, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), pode ter aumentado em Portugal.

Em declarações aos jornalistas, na sede da PJ, em Lisboa, Luís Neves falou sobre a presença em Portugal de membros de organizações criminosas ligadas ao tráfico de droga, tendo confirmado que o homem detido na semana passada, em Cascais, é 'Hulk', membro do PCC.

Em relação à presença de membros deste tipo de organizações brasileiras em território português, Luís Neves admitiu que o número "provavelmente pode ter aumentado" e explicou que esse fenómeno pode ser explicado por diversos fatores: a pressão que as autoridades brasileiras têm feito no combate ao tráfico de droga, a proximidade entre os dois países e a questão da língua.