Quando os governos de direita nos governam
O atual debate sobre o Código do Trabalho e a revisão laboral expôs, mais uma vez, uma dura realidade. A maioria dos portugueses escolhe partidos de direita para governar o país e depois fica surpreendida quando vê os seus direitos laborais a desaparecer. Mas nada disto é inesperado. Ao votar, não escolhemos apenas caras, slogans ou os discursos que encantam os nossos ouvidos, escolhemos um modelo de sociedade e um determinado paradigma para o mundo laboral. Os partidos de direita nunca esconderam, possivelmente omitiram, por questões eleitoralistas, que defendem uma visão do trabalho assente na desregulação dos horários laborais, na prática de salários baixos, na facilidade dos despedimentos, no corte dos apoios à maternidade e à paternidade, em suma, um modelo onde os trabalhadores possuem menos direitos, menos proteção e mais fragilidade. Esta é a génese do governo de direita que nos governa.
Todavia, e como é óbvio, não nos podemos resignar. Defender os direitos conquistados, reivindicar melhores condições, exigir políticas que coloquem o trabalho e a dignidade no centro é um imperativo democrático. Nada muda se ficarmos calados, nada melhora se desistirmos.
Na saúde, a história repete-se. Um sistema cheio de falhas, carente de investimento, de organização e que precisa de soluções estruturadas. O que ouvimos do primeiro-ministro da direita? Cortes na saúde. Redução de despesa. A velha lógica errada de que o problema é gastar demasiado, de que a culpa é sempre dos outros, quando toda a gente sente, no dia a dia, que o verdadeiro problema é não se investir o suficiente.
Na Madeira, o padrão é idêntico. Na saúde regional, as listas de espera continuam intermináveis, faltam medicamentos, faltam médicos, cerca de 18.500 pessoas não têm médico de família, entre tantos outros problemas por resolver nesta área do nosso desenvolvimento. Mesmo assim, o presidente do Governo Regional, naquele tom prepotente de sempre, também anuncia a sua intenção de cortar despesas na saúde. Declara cortes na saúde ao mesmo tempo que disponibiliza milhões de euros do erário público para a construção de novos campos de golfe. As prioridades estão vergonhosamente invertidas, contudo, pela forma como a sociedade civil, em geral, reage parece que não há qualquer problema e, assim, continuamos a viver numa ilusão. A propaganda do sistema instalado é uma máquina poderosa que tudo abafa e legitima.
São décadas do mesmo regime político assente num modelo económico que produziu salários miseráveis, baixo poder de compra, falta de habitação, sentimento de insegurança, problemas sociais graves e um sistema educativo com professores em falta. Os jovens continuam a sair porque não veem futuro na Região. O desafio demográfico continua sem uma estratégia coerente e sem visão. Os problemas estruturais permanecem por resolver, ano após ano, governo após governo. Parece que está tudo bem, mas não está.
O futuro não está escrito, depende de todos nós. O futuro decide-se com participação cívica, capacidade e coragem para lutar, porque quando desistimos, alguém decide por nós e nunca é a nosso favor.