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Trump

Há nove dias que Donald Trump tomou posse como 47.º Presidente dos EUA. Havia alguma curiosidade, alguma ansiedade e expectativa, mesmo, acerca do que seria o discurso na sessão de tomada de posse.

Mais uma vez, Trump foi igual a si próprio. Personagem estranha, narcisista, possuidor de uma aparentemente férrea autoconfiança, impulsivo, com propensão a distorcer a verdade ou, mesmo, a mentir descaradamente, capaz de comunicar o que lhe interessa de uma forma directa (por vezes, rude) e sem rodeios, foi coerente com estas características, no discurso que fez.

A cerimónia contou com a presença de antigos Presidentes dos EUA o que não impediu Trump de desclassificar toda a acção que as antigas administrações tiveram.

Estiveram, também, presentes celebridades suas apoiantes e alguns líderes internacionais.

Nenhuma figura de topo da União Europeia ou mundial a não ser os convidados “especiais”: Javier Milei, presidente da Argentina, Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália, Nigel Farage, líder do partido Reform UK do Reino Unido, André Ventura, presidente do partido Chega de Portugal, Nayib Bukele, presidente de El Salvador, Daniel Noboa, presidente do Equador, Subrahmanyam Jaishankar, chefe da diplomacia da Índia, Takeshi Iwaya, chefe da diplomacia do Japão.

Xi Jinping, presidente da China, fez-se representar por altos responsáveis do seu executivo.

De notar a ausência de Viktor Orbán, primeiro ministro da Hungria, presidente de um partido de extrema direita e apoiante de Trump.

O mais significativo foi a presença de um grupo de multimilionário: Elon Musk, Jeff Bezos, Mark Zuckerberg, Sundar Pichai, Shou Chew, Sam Altman, Tim Cook e outros, que fizeram questão de demonstrar que apoiam Trump.

As linhas mestras do discurso de Trump não fugiram ao que já era por demais conhecido: acabar com a “censura” do governo; declaração de uma “emergência energética nacional” (para aumentar a produção de energia); anúncio da aguardada retirada dos EUA do Acordo de Paris sobre o Clima e da OMS; reivindicação de território para os EUA (incluindo a colonização de Marte e a recuperação do Canal do Panamá); mudança de nome do Golfo do México para Golfo da América; cruzada anti-woke, planos para reverter as políticas de diversidade, equidade e inclusão, reconhecimento, oficial, de apenas dois géneros (masculino e feminino); reafirmação do MAGA (Make América Great Again) revisitado, prometendo elevar a posição dos EUA na cena mundial – “O declínio da América acabou!”; anúncio da organização do maior exército do mundo.

Em relação às guerras e conflitos activos, mencionou a guerra entre Israel e o Hamas tentando ganhar créditos pelo problemático acordo assinado, afirmou que a China

estava a explorar o Canal do Panamá, mas que os EUA iriam recuperá-lo, nem que precisasse de empregar a força das armas; prometeu acabar com as guerras no Oriente Médio e na Ucrânia (que tinha prometido acabar em 24 horas…), embora não tenha mencionado, directamente, a Ucrânia durante todo o discurso.

A julgar por alguns dos elementos já conhecidos da nova administração Trump: Pete Hegseth, comentador da Fox News e veterano da Guarda Nacional do Exército para Secretário da Defesa; Marco Rubio, Senador pela Flórida, Secretário de Estado; Pam Bondi, ex-Procuradora-geral da Flórida, Procuradora-geral dos Estados Unidos; Susie Wiles, uma das principais responsáveis pela campanha eleitoral, Chefe de Gabinete; Elon Musk – o homem mais rico do mundo, pai de doze filhos de diversas mulheres a quem doou esperma, diagnosticado com síndroma de Asperger, apoiante de organizações de extrema direita - nomeado para uma posição importante no governo, com gabinete na Casa Branca, embora o cargo exacto ainda não tenha sido devidamente especificado; Tom Homan, para comandar a agência de Imigração e Fiscalização Aduaneira dos EUA (ICE); e alguns actores de Hollywood para embaixadores dos EUA, é fácil perceber que Trump privilegia a fidelidade em detrimento das qualificações.

Está a rodear-se de “yes men”. A juntar ao controlo das duas câmaras (Câmara dos Representantes e Senado) e do Supremo Tribunal.

Entretanto, até agora, mais de 20 Estados americanos processaram Donald Trump contestando o decreto recente que restringe a cidadania americana para filhos de imigrantes em situação irregular, por ser contrário à Constituição. A maioria desses estados é governada por democratas. Parece que a batalha legal está apenas a começar.

Os dados estão lançados. Resta ao mundo (em especial à União Europeia) aguardar os desenvolvimentos da situação.