A lógica do “bode expiatório”
Migrantes, emigrantes ou imigrantes atualmente são expressões carregadas de preconceitos. Em Portugal não deixa de ser interessante perceber como um país de emigrantes, que tantas vezes se viu confrontado com preconceitos e estigmas de desvalorização, tem vindo a aceder a um discurso discriminatório onde a cultura de proveniência abafa cada pessoa que nos chega de diferentes países na procura de melhores condições de vida. Cada vez mais os portugueses gostam de viajar para diferentes países, explorar novas culturas, ter acesso a experiências locais, sentirem-se pertença, ainda que por um período curto. Há ainda um número significativo de jovens em programas de Erasmus espalhados por todo o mundo e uma emigração diferenciada a procurar em países economicamente mais organizados um lugar de sucesso.
Coloca-se a seguinte questão: se gostamos de ser bem recebidos, acolhidos e integrados, porque nos aflige a chegada de outros e porque temos vindo a desenvolver a crença de que a responsabilidade do que está menos bem no nosso país é daqueles que nos escolheram para viver.
O desemprego, a violência, as dificuldades crescentes de habitação, as falhas do Serviço Nacional de Saúde entre outros graves problemas, que teimam em se manter, são da responsabilidade de quem? A lógica do “bode expiatório”, para continuar a fazer de conta que tudo estaria quase perfeito se vivêssemos isolados na nossa comunidade, é uma ilusão em expansão, vendida por alguns elementos da comunidade política e comprada por quem nela se revê.
Portugal é um país que sempre gostou de receber e ser bem recebido, que sabe partilhar, que é humilde, ambicioso, aberto a e dependente do turismo. O que justifica este ódio gratuito e crescente de empurrar para quem chega o pior que o país tem para revelar?
Nada contra a obrigação de haver políticas de inclusão que são necessárias e fundamentais para o bem estar de todos. Será que ainda não é claro o quanto precisamos uns dos outros e que todos somos corresponsáveis pelo país onde podemos querer continuar a viver.