O tempo de Marcelo
É evidente que o ano de 2024 fica, na Madeira, definitivamente marcado pelas duas surpreendentes quedas do Governo Regional: a primeira em fevereiro, na sequência da demissão do Presidente, e a segunda, no final do ano, em dezembro, com a aprovação de uma moção de censura, logo depois da rejeição do orçamento, isto já numa nova composição parlamentar saída das eleições de 26 de maio.
E foi assim que a Madeira iniciou o ano de 2025 nas mãos do Presidente da República, num quadro de nova dissolução do Parlamento Regional e de marcação de eleições que levou Marcelo Rebelo de Sousa a ouvir os partidos logo no dia 7 de janeiro. Os líderes partidários pronunciaram-se. O Presidente da República ouviu. Sabemos que deve ter em consideração não só aquilo que cada partido diz, mas, acima de tudo, o interesse que melhor serve o povo madeirense. Marcelo não mostrou pressa e convocou o Conselho de Estado apenas para ontem, dia 17 de janeiro. Entre a audição aos partidos e a reunião do Conselho de Estado, 10 dias de silêncio absoluto no Palácio de Belém. Julgo que a Madeira merecia uma palavra, até para evitar datas especulatórias, incerteza e mais instabilidade. Creio que o Presidente da República deveria ter, logo no dia 7 de janeiro, transmitido a sua sensibilidade relativamente à situação política na Madeira. De uma forma clara e transparente, sem ultrapassar o Conselho de Estado. Tinha de, pelo menos, justificar os 10 dias, até para que os partidos se pudessem organizar e definir as suas estratégias. Recordo que, em março de 2024, Marcelo Rebelo de Sousa, no mesmo dia, ouviu os partidos, ouviu o Conselho de Estado e marcou eleições.
Não podemos ignorar que, neste momento, a estabilidade nos partidos poderá ser a primeira base para a estabilidade governativa, principalmente numa dinâmica de governação sem maioria parlamentar. A Madeira tem de, rapidamente, criar condições para a estabilidade governativa, com a consciência de que essa estabilidade passa pela estabilidade parlamentar e, antes, pela estabilidade nos partidos e pela confiança do povo que tem sempre a palavra final.
A situação tornar-se-á muito perigosa se os partidos com maiores responsabilidades na história da democracia não conseguirem criar condições para dar aos madeirenses aquilo que precisam e que esperam, pois isso fará com que as pessoas se afastem cada vez mais do processo de participação ou de construção democrática, ou que manifestem posições de protesto que farão crescer os partidos populistas, angariadores de descontentamentos, que não têm qualquer consistência de pensamento e sentido de responsabilidade governativa. É na desilusão que nasce o caos. Os partidos que não conseguirem encontrar a forma certa de resolver rapidamente os seus desencontros internos, alimentarão movimentos demagogos, perigosos, que não sentem, não defendem e não sabem interpretar os princípios fundamentais do Estado de Direito.
É, pois, fundamental encontrar caminhos de convergência interna que ponham a Madeira em primeiro lugar. O momento exige muita inteligência, lucidez, ponderação, sensatez, respeito, tolerância, humildade, força de carácter, consistência, espírito democrático, independência de pensamento e de atitude e coragem. O Presidente da República marcou as eleições para o dia 23 de março e é importante que este tempo, o tempo de Marcelo, seja também o tempo da Madeira. Sempre pela Madeira!