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Rui Nabeiro - O último grande empresário humanista?

No passado dia 19 do mês de março, com 91 anos de idade, deixou de estar entre nós, um dos últimos, grandes, ímpares e notáveis empresários portugueses. A singularidade do seu percurso pessoal e profissional, apresenta na génese, trabalho, foco, visão e resiliência.

A estas qualidades, no decorrer da edificação do seu grupo empresarial, agrega-se uma filosofia empresarial de pendor fortemente social. Nasce a 28 de março de 1931, na vila alentejana de Campo Maior, distrito de Portalegre, Manuel Rui Azinhais Nabeiro, começando a trabalhar com cerca de 12 anos, por força da necessidade da sua humilde família. Consta que ajudava a mãe num pequeno posto de venda de mercearias, e o pai e tios na torra de café. É com a idade de 17 anos, que assume o rumo da pequena torrefação familiar, logo após o falecimento do seu pai, imprimindo-lhe dinamismo e visão, tendo-se expandindo com a venda de café na vizinha Espanha, o que lhe permitiu crescer empresarialmente. Em 1961, decide criar a sua própria empresa, a Delta Cafés, que desde logo apostou na torrefação de café, e em poucos meses, a marca espalhava-se por todo o país. Foi nomeado Presidente da Câmara Municipal de Campo Maior por duas vezes antes do 25 de Abril de 1974 e eleito por três vezes, após a revolução dos cravos, mantendo-se no cargo até ao ano de 1986. No decorrer da sua vida, várias distinções lhe foram concedidas, nomeadamente comendas atribuídas por presidentes da república, tendo também sido cônsul regional honorário de Espanha, com sede na vila de Campo Maior e jurisdição nos distritos de Castelo Branco, Beja, Portalegre e Évora. Com o patrocínio do seu grupo empresarial, a Universidade de Évora criou em 2009 a Cátedra Rui Nabeiro, destinada à promoção da investigação, do ensino e da divulgação científica na área da biodiversidade. O grupo empresarial que fundou e geriu, é sobejamente conhecido dos portugueses e na atualidade estende-se a várias áreas de negócio e está em várias partes do mundo. Mas é pela sua predisposição e pendor social que é mais apreciado, tendo, inequivocamente, feito a diferença na vida dos seus trabalhadores e dos seus conterrâneos. O que distingue o empresário comendador Rui Nabeiro, sendo profundamente diferenciador, é a sua veia humanista e social, ou se quisemos, na aplicação do valor resultante da riqueza (lucro) gerada pelas suas empresas, comparativamente com a esmagadora maioria dos grandes empresários portugueses da atualidade. É que o empresário de Campo Maior, no decorrer da sua atividade empresarial, teve sempre a vontade de contribuir para a melhoria das condições de vida dos seus trabalhadores e das gentes da sua terra, tendo-o feito, sustentadamente, e de várias maneiras. E nunca esqueceu que a riqueza gerada pelas suas empresas, não seria possível sem o contributo dos seus trabalhadores, e nessa linha de compreensão, retribui-lhes sempre muito mais do que legalmente estava obrigado. Já a esmagadora maioria dos “yuppies do empresariado” atual, primeiro estão atentos aos benefícios fiscais que as suas pretensas ações de caridade poderão influir positivamente nas suas empresas. E, normalmente fazem-no, não com obras de vulto e fundadas em preocupações com o presente e o futuro dos seus colaboradores, mas centrados no imediatismo, com uma contribuiçãozinha aqui e outra acolá, sempre após apurada análise custo/benefício fiscal. A diferença reside, evidentemente, na motivação que está associada ao ato. E isso faz toda a diferença, para que se perceba a real e primeira intenção da(s) ações/doações.