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Decisões à portuguesa…

Júlio César, um marco na História que viveu entre os anos 100 e 44, a.C., granjeou um enorme poder político, militar e económico junto dos seus pares e, bem assim, junto dos seus adversários e inimigos. Durante algum tempo, um desses inimigos foi, sem dúvida, o povo lusitano. A rebeldia e combatividade dos lusitanos eram sobejamente conhecidas. A tal ponto que Júlio César afirmou:

- Há nos confins da Ibéria, um povo que não se governa nem se deixa governar!

Lembrei-me deste facto, pelos factos que, desde sempre (?) vêm ocorrendo, no nosso país, quando se trata de decisões que devem ser tomadas a nível de investimento com impacto significativo na vida dos portugueses, porque exigem recursos significativos, afectam a sua qualidade de vida, etc.

A2 – A auto-estrada que liga Lisboa ao Porto (A1) iniciou-se em 1961. A ligação só ficou completa e dada como concluída em 1991. Entretanto, as populações a sul de Tejo reclamavam de similar direito, até que o governo lançou o concurso para a obra que ligaria Lisboa ao Algarve (A2). O trajecto inicial foi contestado porque prejudicava um passarinho que nidificava algures no percurso previsto. Feita a alteração, descobriu-se que o novo traçado afectaria o habitat de uma espécie de minhoca de que se alimentava o passarinho salvo pela alteração do trajecto inicial… Mais alterações e mais uns anos de espera…

TGV – A localização na extremidade sudoeste do velho continente torna o nosso país periférico em relação aos restantes países da Europa. Para atenuar os custos de periferia, lançou-se a ideia de construção de uma linha TGV (trem de grande velocidade) a fim de “aproximar” Portugal do centro da Europa. De estudo de impacto em estudo de impacto de qualquer e de todas as coisas, gastou-se milhões de euros e o projecto… não passou disso mesmo.

Aeroporto de Lisboa – Há muitos, muitos anos que ouço que o aeroporto de Lisboa tem uma expectativa de vida muito limitada, face à sua localização, à sua dimensão, ao tráfego aéreo, à proximidade ao centro da capital, etc. etc. Entretanto, “comme d’habitude” deram-se início às sugestões, já no século passado. Assim, das que me lembro, foram a Ota, Beja, Montijo, Alcochete, Rio Frio, Poceirão, Pegões, Santarém…

Ainda não está decidido.

Júlio César tinha razão! Os genes lusitanos continuam bem presentes nos nossos governantes.

Pelo que me toca, como cidadão deste país, se me perguntarem onde quero, não sei, porque as minhas competências na área limitam-se a, quando preciso, comprar o bilhete e pagar bem caro por ele. No entanto, à pergunta onde construir o aeroporto de Lisboa eu responderia:

- O aeroporto de Lisboa na Calheta? Não!