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Favor não incomodar

Tenho dúvidas se este não é um daqueles exercícios de gasto de caracteres que fazia mais sentido ser escrito noutro local mas arrisco partilhar o que têm sido estes últimos tempos no que à gestão de pessoas diz respeito.

Esta nova geração está cheia de si! E só pensa em si! Tem uma muito limitada capacidade de compreensão da realidade em que se insere e acha, salvo honrosas excepções, que toda a gente lhes deve e ninguém lhes paga.

Ouviram dizer tantas vezes que são os mais qualificados de sempre que mesmo os que o não são só estão para exigir e têm pouco para dar em troca, sobretudo no que toca a experiência e conhecimento, atropelando pelo caminho colegas sem pensar duas vezes.

É verdade que a oferta hoteleira cresceu mais do que devia e do que conseguia acomodar. Também é verdade que o sector perdeu gente para outras áreas, nomeadamente para a construção civil, que me dizem paga melhor (porque será?) ou para a função pública, que tem muito mais regalias e ainda não percebeu o que está a fazer com este continuado recrutamento de duvidosa necessidade e critério. Mas isto explica tudo?

Esta nova malta senta-se nas entrevistas de trabalho com um rol de mercearia de requisitos na mão. Ele são dias de folga ao fim-de-semana, horários até às 6 da tarde ou pagamentos pela porta do cavalo, que nós é que temos de amanhar-nos com essa história dos impostos.

A tudo isto algumas empresas têm dito que sim, por necessidade extrema e absoluta, sem cuidar de perceber o que estão a fazer àqueles que se encontram já a trabalhar, a quem tanto devemos e que muito legitimamente aspiravam conseguir um dia chegar onde estes novos Ronaldos entendem ter assegurado, logo à partida, por direito divino.

Uns dão-nos o privilégio de podermos contar com eles por uns tempos. Ainda há dias, um rapaz de 19 anos foi embora ao fim de 15 dias por causa do stress. Stress? Disso sofre o Zelensky, por amor de Deus! Outro, passados 3 meses, veio exigir alteração das folgas para o fim-de-semana. Outro ainda, passado um mês, queria um aumento do vencimento ou ia-se embora. E foi… E abandonos sem cuidar de prazos de aviso obrigatório?

Nunca apreciei a lógica do chicote e posso, com convicção, afirmar que nunca foi essa a nossa praxis. Acredito na exigência, no profissionalismo, no respeito, desde logo pela profissão mas também pela empresa, pelos colegas e pelos clientes.

Aprecio a dedicação e sou a favor da dignidade no trabalho, que depende também e muito dos profissionais; não se dignifica nada só com ordenados. Defendo, sem qualquer dúvida ou hesitação, que o trabalho não pode nunca pôr em causa a vida familiar ou o tempo de descanso. Acredito nisto tudo!

O que sinto no entanto é que, por este andar, vamos ter de fechar os hotéis ao fim-de-semana, pôr os clientes a jantar depois do almoço, porque o horário tem de ser seguido e há que fechar às 18h, perguntando nos intervalos se incomodamos ao pedir para as pessoas trabalharem na “arte” que escolheram para as suas vidas.