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Criar (o) futuro (XX)

Numa Região em que o retrato demográfico identifica os idosos como representantes de cerca de 20% da população (Censos 2021), é premente debruçarmo-nos sobre a temática do envelhecimento e idadismo, refletir sobre “os novos Velhos”, como muito oportunamente promoveu a IPSS Garouta do Calhau, no VII Encontro de Idosos.

Também de enaltecer é o inquérito à população para avaliar o Idadismo, lançado pelo Governo Regional, através da Secretaria Regional de Saúde e Proteção Civil, inserido na Campanha Contra o Idadismo, promovida pela Direção Regional para as Políticas Públicas Integradas e Longevidade, em linha com a agenda da Década do Envelhecimento Saudável 2021-2030 da Organização Mundial de Saúde (OMS).

A idade é uma das primeiras características que observamos nas outras pessoas, sendo o idadismo o “estereótipo, preconceito e discriminação dirigida contra outros ou contra si mesmo com base na idade” (OMS, 2021). Trata-se de um conceito relativamente recente, utilizado pela primeira vez, há pouco mais de 50 anos, pelo psicólogo norte-americano Robert N. Butler, e que passou a designar qualquer tipo de preconceito relativo à idade. Refira-se que, só muito recentemente, o termo idadismo foi incluído no Dicionário de Língua Portuguesa.

Contudo, embora a discriminação em função da idade possa afetar qualquer pessoa, é mais frequente face aos mais velhos. De acordo com o European Social Survey, que engloba 28 países, Portugal é um dos cinco países que considera o idadismo como um problema grave. Embora seja, em teoria, facilmente condenável discriminar alguém por causa da idade, a verdade é que, numa sociedade em que a eterna juventude é muitas vezes entendida como algo a perseguir, ainda permanece um grande estigma em relação às pessoas mais velhas. Repetidas vezes, há, infelizmente, atitudes discriminatórias e estereotipadas em relação aos idosos, como se ter mais idade só pudesse ser visto sob o prisma de desvantagem, numa avaliação gerontofóbica, sem ter em linha de conta as experiências e vivências que podem e devem servir na elaboração de mais e melhores soluções no âmbito das políticas públicas.

O idadismo, assim como qualquer outra forma de discriminação, reflete falta de conhecimentos, mas também de empatia, e tem repercussões na imagem que a sociedade constrói acerca da velhice, influenciando a forma como esta se vivencia e desenvolve por parte de cada indivíduo.

A OMS declarou o envelhecimento como tema prioritário para esta década. Nessa senda, é urgente promover uma ressignificação da velhice, na qual é fundamental compreender a diversidade individual e cultural de cada indivíduo, e não confinarmos os idosos a um dado estatístico identificado como grupo etário com 65 ou mais anos.

Sabemos que o envelhecimento é influenciado por vários fatores, nomeadamente biológicos e psicológicos, mas também sociais e ambientais, e é entendido de forma diferenciada por cada pessoa. A velhice revela-se, assim, um processo único, sendo o reflexo quer das respetivas características individuais quer da época e sociedade em que se vive.

Por isso, é erróneo pensar que todos envelhecemos ao mesmo ritmo, mas algo que é comum ao ser humano, até fruto do progresso económico e ao nível da saúde, é aspirar a viver muitos anos. Assim, o aumento da longevidade potencia a relevância de entender o envelhecimento como um campo fértil de novidades, de conquistas e bem-estar. Nessa caminhada, é fulcral cada um preparar, com o apoio das entidades sociais e de saúde, o seu envelhecimento, que se deseja saudável e ativo, e, igualmente, com acesso à informação e participação na sociedade, sendo protagonista na construção e concretização do seu projeto de vida.

O tempo presente é sempre um excelente ponto de partida para preparar o destino futuro, e todos somos chamados a contribuir para um futuro mais solidário e mais humano, alterando, com um olhar mais otimista, a visão sobre a velhice, através da valorização dos mais velhos.

Sem esquecer a necessária transição geracional, é vital compreender a importância de incluir, no esboço do futuro que se pretende alcançar, o contributo dos saberes e experiências de vida das pessoas com mais idade e que continuam a ter muito para oferecer à sociedade. Neste contexto, a solidariedade intergeracional contribui, de forma decisiva, para um maior e melhor desenvolvimento económico e social e para uma sociedade mais inclusiva.

Vamos pensar o que queremos que seja a nossa velhice, e, assim, dar prioridade ao que e a quem realmente importa, porque o tempo não para.

Citando a escritora Madeleine L’Engle: “O lado grandioso de envelhecer está em não perdermos todas as outras idades em que vivemos”. Que assim seja!