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Crónicas

8 mil milhões a “voar” num aeroporto

Por aqui é tudo à grande e à francesa sendo que nós não somos franceses e temos que nos habituar a viver com a dimensão do país que temos e a projectar objectivos razoáveis

Portugal é o país das megalomanias. Não nos conseguimos libertar dos tiques de novo riquismo que de quando em vez dão um ar da sua graça em total prejuízo de quem? Dos contribuintes. Voltamos à questão do aeroporto de Lisboa que com estudos e gabinetes independentes sabe-se lá em quanto já não vai à conta do erário publico, mas está tudo bem, parece que não lhes custa a ganhar (e não custa mesmo). O tema voltou à ordem do dia e parece que os estudos de mais uma (CTI) Comissão Técnica Independente, apontam para a construção de um novo aeroporto principal de Lisboa, em Alcochete e que está orçado na módica quantia de oito mil milhões de euros. Sim, é esse mesmo o valor. Decide-se então que a Portela já não serve para nada e constrói-se um novo aeroporto que estará pronto, nas previsões mais optimistas em 2031 e que terá capacidade para cinquenta milhões de passageiros por ano. Eu pergunto-me para que quer a capital do nosso país um aeroporto para tanta gente, destruindo o que já existe e se o dinheiro que se vai gastar não seria mais importante para outras obras estruturantes do país.

Se repararmos com atenção o custo da expansão da Portela e a construção do aeroporto no Montijo ( por exemplo ) teria um custo de pouco mais de um milhão de euros já contando com as acessibilidades e a junção da capacidade dos dois, conseguiria receber na mesma os cinquenta milhões de passageiros por ano já a partir de 2026, continuando Humberto Delgado a funcionar como Hub para a TAP e o da Margem Sul sobretudo para voos de companhias low-cost. Com o diferencial dos valores entre um e outro projecto, teríamos a capacidade por exemplo de criar a ligação ferroviária entre Lisboa e Porto e destes a Madrid e ainda sobrava dinheiro (muito dinheiro), para obras estruturais no continente e nas ilhas, sobretudo no reforço do Sistema Nacional de Saúde. Mas não. Por aqui é tudo à grande e à francesa sendo que nós não somos franceses e temos que nos habituar a viver com a dimensão do país que temos e a projectar objectivos razoáveis.

Lisboa está, em altura de maior tráfego, nas épocas mais altas, atulhada de gente, malas de rodinhas por todo o lado, uma cidade completamente descaracterizada onde se perdeu a autenticidade e se vai empurrando quem cá vive para a periferia para facilitarmos a entrada aos que vêm de fora com mais dinheiro. Não sou contra que venham visitar o nosso país, antes pelo contrário, mas acho que podemos e devemos ter em atenção o excesso de turismo para uma cidade que não tem uma capacidade ilimitada e as condições para os que cá vivam tenham qualidade de vida. Antigamente Lisboa cheirava a mar e a flores, hoje em dia cheira a esgoto em várias zonas e só os vendedores de castanha assada vão dando algum perfume diferente, a hora de ponta transformou-se em dias de ponta em que seja a que horas for, são filas intermináveis para chegar a qualquer lado. Exasperante quando não existe um serviço de transportes públicos que nos possa deixar ficar o carro em casa.

O que Lisboa precisa é de atrair alguns eventos e criar apetência para as pessoas virem em alturas de menor fluxo que possa combater a sazonalidade e Portugal precisa de canalizar alguns dos seus recursos para dotar o interior e algumas zonas que têm sofrido o êxodo para as grandes cidades de projectos e algumas infra estruturas que possam fixar os que por lá estão e atrair novos “clientes”. Não podemos viver só do Turismo e teria sido bom consciencializarmo-nos disso há uns anos atrás quando deixámos morrer quase toda a indústria. Os parques de diversões são bons para visitar uma semana e não para viver neles o ano inteiro.