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Inteligência Artificial nas escolas

Volto a falar de Inteligência Artificial (IA). Concretamente da sua utilização no ensino. Não descartando todas as vantagens que esta pode trazer quando bem aplicada na realização de trabalhos escolares, preocupa-me como o recurso às diversas ferramentas disponíveis atualmente, pode facilitar demasiado não só o desenvolvimento das exposições escritas como as apresentações. Sobretudo se houver desonestidade por parte do estudante, que em vez de indicar todas as fontes usadas na elaboração de um trabalho, opta por ignorar os princípios éticos elementares relacionados com o uso responsável da informação sem recurso ao plágio.

Os alunos apresentam-se, em vários níveis de ensino, sobretudo no secundário e no universitário (mas não só), com brilhantes explanações feitas em minutos. Contudo, por vezes, a interpretação do conteúdo pode não ser a esperada. A propósito, um colega comentara-me, um dia destes, que com estes recursos o desenvolvimento do cérebro fica “congelado”.

Por isso mesmo, algumas instituições de ensino estão a investir na formação dos seus alunos, para que os estes saibam tirar proveito destas modernas e potentes ferramentas, sem se sentirem tentados a simplesmente difundir os conteúdos, sem qualquer esforço.

Dou formação no ensino secundário há vários anos e costumo detetar facilmente textos que não são da autoria dos alunos ou textos que resultam de plágio. Na maior parte das vezes, nem preciso de fazer uma verificação com recurso a programas específicos ou pesquisas em motores de busca, pois o rigor da escrita pouco coincidente com os autores ou vestígios de palavras no português do Brasil bastam-me para perceber que os meninos não respeitaram as minhas indicações. Outra pista é a omissão de referenciação bibliográfica. Quem não teme…

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) lançou recentemente um guia para o uso da IA nas escolas, defendendo que os governos devem regular o uso da inteligência artificial nas escolas. O objetivo seria garantir a ética e concentrar a educação e a investigação nos humanos.

Com o contributo de vários especialistas de diferentes continentes, o guia recomenda que a tecnologia «seja introduzida na educação com base em evidências que demonstrem que é apropriada, equitativa, evolutiva e sustentável. Ou seja, a sua utilização teria de estar ao serviço dos alunos e complementar a interação presencial com os professores. Teria, ainda, de ser considerada uma ferramenta a ser usada nessas condições».

Já no ano passado a União Europeia, no âmbito do Plano de Ação para a Educação Digital, publicou “Orientações éticas para educadores sobre a utilização da inteligência artificial (IA) e de dados no ensino e na aprendizagem”, que focam a «melhoria qualitativa e quantitativa do ensino no domínio das tecnologias digitais, o apoio à digitalização dos métodos e pedagogias de ensino e a disponibilização das infraestruturas necessárias para uma aprendizagem à distância inclusiva e resiliente».

Portanto, como já sublinhei, apesar de todos os benefícios da IA, temo que ainda estamos a passos largos de conseguirmos a literacia digital desejada e necessária nas escolas.