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Museu Etnográfico da Madeira assinala Natal com duas exposições

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O Museu Etnográfico da Madeira (MEM), espaço tutelado pela Secretaria Regional de Turismo e Cultura, através da Direcção Regional da Cultura, inaugura amanhã, pelas 16 horas, duas mostras temporárias dedicadas à 'Festa'. A cerimónia contará com a presença do secretário regional de Turismo e Cultura, Eduardo Jesus.

A primeira exposição é intitulada 'As Iguarias d’A Festa’ e terá lugar na cala de exposições temporárias do MEM. Sobre esta mostra, refira-se que, na Região, os festejos de Natal, ou a Festa, como é popularmente designado, são vividos de forma muito intensa. Começam, geralmente, a partir de 8 de Dezembro, dia da Imaculada Conceição e seguem-se as nove missas do parto, em evocação aos nove meses da preparação ao parto da Virgem Maria, que têm lugar desde o dia 16 de Dezembro, até à véspera do dia de Natal. 

Após o dia de Natal, os rituais festivos prolongam-se com as oitavas da Festa, as festas de Ano Novo, o Dia de Reis e terminam, de uma forma geral, com a comemoração do Santo Amaro, designada por 'varrer dos armários', no dia 15 de Janeiro.  

Em algumas freguesias da ilha os festejos encerram mais tarde, perdurando até as festas religiosas de Santo Antão ou de São Sebastião, comemoradas nos dias 17 e 20 do mesmo mês.

No que toca à gastronomia tradicional da Festa, a função do porco marca o início da preparação deste grande acontecimento do ano, logo após o dia Santo, de 8 Dezembro, que invoca a vida e a virtude da Virgem Maria, mãe de Jesus, concebida sem marca do pecado original, uma data de grande significado para a Igreja Católica. 

Outrora, sobretudo nos meios rurais, por tradição, todas as famílias cuidavam do chamado porquinho da Festa, para ser abatido nas vésperas que antecedem o Natal. Parte do animal era consumido nesta época e as partes restantes eram todas aproveitadas, transformadas em linguiça, carne vinha-de-alhos, torresmos, carne salgada e banha, para serem consumidas ao longo de todo o ano. Esta tradição surge associada à subsistência das famílias, já que, em tempos, a carne do porquinho da Festa, era a única existente na dieta alimentar do povo. 

A função do porco, actualmente sem a expressão de outros tempos, é uma tradição que se mantém viva na época natalícia e representa um momento de confraternização entre famílias, amigos e vizinhos.

As rotinas do trabalho agrícola, nas zonas rurais, 'abrandavam', no mês da Festa, para dar lugar à preparação das iguarias desta festividade cíclica.

As famílias repetiam rituais calendarizados, influenciados, alguns, pelas 'luas', sobretudo o primeiro, da função do porco e todas as tarefas que lhe estavam associadas. Seguia-se a preparação dos licores, com a fruta colocada previamente em infusão, a confeção da doçaria, nomeadamente os bolos e broas de mel, o bolo de família e o bolo preto e terminava com a amassadura de pão, nas vésperas do Natal e a armação da 'lapinha'.  Trata-se de tradições que o povo preserva, como parte integrante das suas vivências e memórias, resistindo à passagem do tempo e ao desenvolvimento tecnológico.

As famílias fazem questão de colocar uma 'mesa farta', com variedade de iguarias, como forma de agradar e impressionar familiares e amigos e nestes convívios, trocam-se ideias e partilham-se experiências e receitas, começando-se já a preparar a Festa do ano seguinte. 

Também a partir de amanhã volta a estar aberta ao público a Lapinha do Caseiro, aquele que é um dos mais célebres presépios da Região, e que se manteve durante décadas como uma das grandes atrações do Natal madeirense.      

Francisco Ferreira, o 'Caseiro', nasceu na freguesia do Monte a 11 de Outubro de 1848.

Artista autodidata, cedo demonstrou aptidão para talhar a madeira, esculpindo desde os seus 14 anos e tornando-se santeiro de profissão.        

Foi autor de inúmeras imagens que se mantêm na Ilha, na posse de familiares, de particulares e dispersas por algumas igrejas (de Nossa Senhora do Monte, de Santo António, no Funchal e da Tabua, na Ribeira Brava). Outras perderam-se, possivelmente levadas para longe por emigrantes devotos. 

Para além de inúmeras figuras de Jesus Menino, de Cristo adulto, realizou também outros santos: Nossa Senhora da Piedade, a Virgem do Calvário, Nossa Senhora da Conceição, São João Baptista, São Francisco de Assis e Santo António. 

Mas a obra da sua vida foi, de facto, o presépio. Iniciado na sua juventude, nele trabalhou até morrer, em 1931, tinha então 82 anos. Este conjunto narra o longo percurso deste artesão, testemunhando toda a sua evolução e a sua cada vez maior aptidão para talhar a madeira. 

Com o propósito de preservar e salvaguardar este precioso testemunho do nosso património cultural, a coleção foi adquirida pelo Governo Regional para integrar e enriquecer o acervo do Museu Etnográfico da Madeira.

Restaurada e incorporada no seu acervo, em 2021 passou a integrar o percurso da exposição permanente, enriquecendo-o. É aberta ao público, anualmente, nesta época, recuperando-se, desta forma, a tradicional visita dos madeirenses àquela lapinha. 

As duas mostras poderão ser vistas até 20 de Janeiro de 2024.