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Natal *

O Natal de antigamente
todos à volta do lar,
antes da missa do galo
com fé íamos rezar.

Muito tempo antes da Festa
musgo está preparado,
Pico Alto está varrido
tanto molho carregado.

Para a matança do porco
vem ajudar o vizinho,
alegria vai crescendo,
enquanto esvazia o vinho.

Alegres todos convivem
crianças correm à toa,
chaminé já deita fumo,
o sol desce a Coroa.

Panela com os torresmos
forno abranda pão fresco,
no terreiro mesa posta,
tábua em cima do cesto.

Esta é a função do porco
no dia da Conceição,
com o musgo chamuscado
família em reunião.

Bolo de mel e broas
e o pão bem amassado,
tudo pronto para a festa
assim era no passado.

Num dos cantos do terreiro
já rebenta a ceara,
presépio dentro espera
ali ao canto da sala.

Sapatinho à lareira
à espera da esperança
e que dure todo o ano
esta divina lembrança.

Até na família pobre
o Menino não esquece,
com sapato na lareira
o mistério acontece.

Ali entrou o Pai Natal
muita alegria trazia,
até ao menino pobre
o sonho lhe coloria.

Também entra o Menino
nesta pobre chaminé,
presente sempre trazia
Natal d’esperança e fé.

A mãe o jantar prepara
ao chegar o Pai Natal,
Menino Jesus dá prenda
no sapato junto ao lar.

A prenda é fantasia
que se espera vir a ter,
cresce a fé no Pai Natal
que não se quer perder.

Se a prenda não acontece,
o pobre não se admira,
muito rezou todo o ano
mas santo sempre esquecia.

Assim vive a ilusão
que nunca satisfará,
a alma sempre se alegra
com os sonhos que terá.

Alimentam grande Festa
desde a missa do parto,
romagem missa do galo
e ceia de prato farto.

O Natal nunca mais chega,
oh, que data tão festiva!
A melancolia cresce
recordação emotiva.

Natal não é só festa,
também é recordação,
vivências e memória
daqueles que não estão.

Natal é tempo feliz
pra alma se encantar,
não apenas em dezembro
magia vai continuar.

*) Baseado no livro Casa da minha avó, de Filipe Corujeira.