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Governo mais rico, madeirenses mais pobres

O Programa de Governo para 2023-2027, aprovado esta semana na Assembleia Legislativa da Madeira, é uma desilusão. Demasiado vago, preso a uma linha de continuidade, sem rumo, sem a definição de propostas estruturantes nem a visão estratégica necessária para a construção de um modelo de desenvolvimento sustentável que garantisse soluções para os nossos problemas e trouxesse a esperança para um futuro melhor.

O Governo Regional insiste na manutenção do mesmo paradigma de políticas que aprofundam, em vez de mitigar, os contrastes sociais e económicos da Região. Se, por um lado, assistimos a um crescimento económico em diversos setores, assente no aumento de receitas bastante significativas, por outro, vivemos pressionados por uma política de salários baixos, de precariedade laboral e pelo poder de compra mais baixo do país, que atira a classe média para o empobrecimento progressivo e outros milhares de madeirenses para o risco de pobreza e exclusão social. Contabilizamos ainda mais de 60 mil madeirenses que vivem com menos de 551 euros mensais, 6.600 jovens entre os 16 e 34 anos que não estão a trabalhar nem a estudar (os chamados “nem nem”) e cerca de 17 mil que foram obrigados a emigrar por falta de oportunidades e de qualidade de vida.

Torna-se necessário relembrar que os madeirenses auferem os salários médios mais baixos do país. São milhares de homens e mulheres, uma grande parte com ensino superior, que levam para casa menos de 1.000 euros de rendimento mensal.

O Programa de Governo aprovado define propostas concretas e linhas estratégicas no sentido de resolver ou de inverter a tendência desta dura realidade vivida dentro das casas da maioria dos madeirenses? Não e não! O que apresenta é demasiado fraco.

Esperava-se deste novo Governo um Programa com respostas para as adversidades que afetam a Região, mas também propostas concretas e arrojadas para enfrentar os desafios dos novos tempos relacionados com o ambiente, o despovoamento, o envelhecimento da população, a baixa natalidade, a saúde, a habitação, o ambiente, a agricultura (os nossos agricultores usufruem dos rendimentos mais baixos do país), a falta de mão de obra qualificada, a formação e qualificação (40% dos estudantes abandonam os cursos profissionais), entre outros.

Assistimos a uma economia regional que produz riqueza, não para a maioria dos madeirenses, mas apenas para uma pequena elite e, pasme-se, também para o Governo Regional que, silenciosamente, tem vindo a encher os seus cofres à custa dos pesados impostos. Para além dos 1.000 milhões de euros de receita fiscal prevista para 2023, foram aos bolsos dos madeirenses retirar ainda mais de 120 milhões de euros de impostos de cobrança extraordinária. Temos, na verdade, um governo rico, todavia, sem visão nem interesse para investir em políticas de justiça fiscal e de redistribuição da riqueza produzida.