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Crónicas

O bom, o mau e os chalupas

Enquanto a privatização da TAP não levanta voo, estamos a tempo de recordar o ziguezague do PS em relação ao destino da companhia de bandeira. Em 2012, Costa sugeria a integração da TAP numa companhia latino-americana. Em 2014, defendia que a TAP não deveria ser privatizada. Em 2015, o mesmo Costa, já só recusava a perda pelo Estado da maioria no capital da empresa. Em 2017, assinou a recompra de 50% da TAP e não cumpriu com a promessa da maioria. Em 2022, Costa acabou a nacionalizar 100% da companhia. Em 2023, foi-se o interesse estratégico e, sem ele, surgiu a disponibilidade para vender até 95% da TAP. Mas não se preocupem os mais patrióticos. Galamba já admitiu que, caso corra mal a privatização, o Estado estará disponível para nova nacionalização.

O bom: Brigada Helitransportada

São a ponta de uma lança que avança quando todos recuam. A Brigada Helitransportada não dispensa, nem substitui, os milhares de profissionais e voluntários envolvidos no combate direto, na logística e no patrulhamento, mas chega onde mais ninguém consegue chegar. Numa ilha de rocha dura e montanha agreste, esse alcance é decisivo. Se dúvidas houvesse, as mais de 300 descargas de água realizadas pelo helicóptero são sinal de que, sem o meio aéreo, a extensão da área ardida teria sido, tragicamente, maior. O que nem sempre foi unânime é, em 2023, um facto indiscutível. O helicóptero é um elemento indispensável para a proteção da população na Madeira. Não só no combate a incêndios, mas também na busca e salvamento de pessoas. É óbvio, embora não ofenda relembrar, que o helicóptero não dispensa a contínua valorização da carreira dos bombeiros, não substitui a necessidade de formação constante, nem permite prescindir de botas no chão, mas hoje é impensável um serviço regional de proteção civil sem capacidade aérea. Em abono da verdade, como bem adiantou Miguel Albuquerque, o meio aéreo carece de reforço – não só em quantidade, mas também em capacidade de intervenção. A esse propósito, e porque a regionalização da proteção civil não implica a desresponsabilização do Estado quanto à nossa segurança, impõe-se um breve exercício de memória. Em três orçamentos do Estado (2018, 2019 e 2020), o Governo de António Costa comprometeu-se - com direito a artigo próprio e tudo - com o reforço dos meios de combate a incêndios, incluindo os meios aéreos, na Madeira. O PS por três vezes prometeu e por três vezes negou esse financiamento. À espera dos socialistas, o helicóptero ainda estaria em terra.

O mau: António Guterres

A História não começou a 7 de Outubro. Mas o contexto histórico, embora necessário, não justifica, nem sequer enquadra, as atrocidades cometidas pelo Hamas nesse dia. Esse tem de ser o primeiro ponto de qualquer discussão sobre o tema. O Hamas é uma organização terrorista, que usa o povo palestiniano para atingir o seu único objetivo. Exterminar Israel e aniquilar os judeus. O segundo ponto decorre do primeiro. Em 2007, o Hamas, através de um golpe de estado, tomou o poder na faixa de Gaza e limitou a Autoridade Palestiniana ao controlo da Cisjordânia. Desde então, os palestinianos lá residentes têm sido vítimas da progressiva talibanização do regime. O Hamas para além de não representar o povo palestiniano, mantém-no como refém e usa-o como escudo, no conflito com Israel. Foi aqui que Guterres falhou. Não falhou porque criticou Israel. Não falhou porque apontou o sufoco sofrido pelos palestinianos. Não falhou porque alertou para as violações do direito internacional praticadas por Israel. Guterres falhou porque traçou uma relação entre o Hamas e a causa palestiniana. É nesse pântano, enfeitado com bandeiras do Daesh, que o anti-semitismo tem vindo a renascer. Não por iniciativa da extrema-direita, historicamente racista e anti-semita, mas pela mão da esquerda que deixou a memória prescrever.

Os chalupas: Climáximo

Chalupas. Pessoas que perderam o uso da razão ou que não têm sanidade mental. Neste caso, se quisermos ser específicos, chalupas climáticos. O grupelho de imberbes, auto-declaradas vítimas de ansiedade climática, juntou-se para lançar o caos inconsequente e, com isso, prestar o pior serviço imaginável à causa que juraram defender. A urgência factual e científica das alterações climáticas dispensa embaixadores tão histéricos. As gerações mais novas e, por isso, potencialmente mais expostas aos efeitos das alterações no clima, não merecem porta-vozes tão levianos. Mas afinal o que mudou depois de dois ministros pintados de verde, uma dúzia de montras partidas, um campo de golfe danificado, uma peça de teatro interrompida e algumas estradas cortadas? No clima, zero. Na causa climática, mudou muito. Primeiro, porque a mensagem apocalíptica cria no cidadão comum um sentimento de inevitabilidade e, em consequência, a ideia terrível que já não há nada a fazer. Segundo, o desprezo mal disfarçado da Climáximo pela economia de mercado e pela iniciativa privada, simbolizado pela proposta de taxar o salário dos mais ricos em 99%, significaria, entre outras coisas, o fim do investimento na inovação tecnológica. A mesma inovação que nos trouxe energias renováveis, materiais reutilizáveis e uma economia progressivamente mais verde. Tudo o que colar a mão a uma estrada ou ao interior de um avião não traz. Os chalupas da Climáximo não são simples palhaços de serviço. São o circo inteiro.