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Editorial

De que lado estão os democratas?

Cruzada pela literacia mediática implica empenho colectivo urgente

A desinformação é a maior ameaça à liberdade de imprensa, esse bem comum que se renova também sempre que um meio de comunicação social assinala mais um aniversário. Não admira por isso que nos nossos 147 anos tenhamos escolhido a literacia mediática como tema de abordagem e de reflexão.

A mentira transformou-se num negócio que se alimenta da descredibilização constante da informação rigorosa e séria, na tentativa desesperada de fazer passar mensagens de ódio, narrativas alternativas e conveniências ficcionadas. Um mal engendrado por ressabiados que urge combater com determinação e sem medo da conspiração e do insulto.

Trata-se de uma manobra com fins políticos. Aliás, não foi por acaso que no editorial pós-eleitoral lançamos um aviso a quem julga que este vírus disfarçado com vestes festivas e com ar inocente se aniquila com pensos rápidos. Se não houver uma verdadeira e determinada frente aliada da literacia mediática, nem os futuros governos da Madeira escapam à tormenta, nem se resolvem com negociações a três ou a quatro, apesar da desejada estabilidade.

À desinformação juntam-se outros dramas que atentam contra os direitos consagrados, que comprometem a verdade e que, de forma orquestrada, confundem consciências.

Caso da fadiga informativa decorrente da produção repetitiva e demorada em canais ditos de notícias, que debitam assuntos levianamente certificados e prolongam directos vazios de relevância, expedientes a que falta ponderação e reflexão.

Mas também da sede do imediato, dessa voragem por dar primeiro sem a preocupação em ser certeiro.

Da discussão de factos com base em opiniões, algumas das quais a quem alguns inadvertidamente oferecem anonimato, tal a profusão dos comentadores que se acotovelam numa gritaria incontrolável no espaço público, nas redes ditas sociais ou nos programas alegadamente de contraditório pedagógico.

Da pirataria sem penalização ou da apropriação indevida de conteúdos e da reacção hostil ao trabalho de verificação de factos.

Do advento da Inteligência Artificial, muitas vezes usada sem critério nem enquadramento, sem contexto nem legislação, sem nexo nem atribuição, alimentando-se ela própria daquilo que vai gerando ou então das injecções de conteúdos colocados na rede global com intuitos desonestos e propagandísticos.

Das ofensas mais ou menos cirúrgicas aos mensageiros à boleia de chantagens financeiras, assédios morais e até de regulamentações inibidoras da criatividade.

Das campanhas sistemáticas que minam a credibilidade jornalística para fazer vingar extremismos e outras delinquências sociais.

Das desconsiderações tresloucadas aos apoios públicos que visam assegurar o pluralismo e corrigir assimetrias ditadas pela descontinuidade territorial.

A lista de casos susceptíveis de atrofiar a liberdade é imensa. Mas o esforço de libertação das pressões e opressões e de resistência aos ataques cobardes ou de intimidações de circunstância é admirável. A imprensa registada, transparente e com rosto; a imprensa livre, imparcial e de pacto assinado com a verdade; a imprensa irreverente, promotora do pensamento crítico e que partilha valor é a garantia viva de todas as outras liberdades. Sem jornalismo a democracia definha.