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OMS pede "operação maciça e urgente" para levar vacina da malária ao maior número de crianças

Foto Shutterstock
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O diretor do Programa Global da Malária da OMS apelou a uma "operação maciça e urgente" para garantir que a vacina contra a malária chega ao maior número de crianças possível e o mais depressa possível.

"Uma vacina que pode salvar todos os anos entre 40 e 80 mil vidas de crianças africanas é algo que precisa de ser abordado com o máximo de ambição e sentido de urgência. Por isso, uma escalada lenta e gradual, se me perguntam, não seria aceitável", disse Pedro Alonso na conferência de imprensa em que apresentou aos jornalistas o Relatório Mundial da Malária 2021, hoje publicado.

O responsável falava após, em 06 de outubro, a Organização Mundial de Saúde (OMS) ter recomendado a utilização em larga escala da vacina contra a malária RTS,S, que já estava a ser aplicada em três países africanos - Gana, Maláui e Quénia - ao abrigo de um projeto-piloto que já abrangeu 830.000 crianças, segundo disse Alonso.

A RTS,S, com uma eficácia de 30% na prevenção da malária grave, foi a primeira vacina que demonstrou reduzir a malária em crianças.

Provocada por um parasita que é transmitido por um mosquito, a malária pode ser contraída várias vezes ao longo da vida e pode comprometer o desenvolvimento e a vida das crianças quando contraída em idade precoce.

Após o "anúncio histórico" da OMS, disse Alonso, começa "o trabalho duro": A procura potencial da vacina pode ser de 80 a 100 milhões de doses por ano, enquanto a capacidade de produção atual é de 15 milhões de doses por ano.

"Este é um exemplo de onde os mecanismos internacionais têm de entrar no jogo, para garantir financiamento adequado que permita a expansão da capacidade de produção e a distribuição urgente da vacina", disse.

O epidemiologista congratulou-se com o anúncio da Aliança Global para as Vacinas (GAVI), que na terça-feira deu luz verde ao programa de vacinação contra a malária na África subsaariana, desbloqueando uma primeira tranche de 155,7 milhões de dólares (137,7 milhões de euros) para financiá-lo.

Questionado sobre o facto de a vacina só ter uma eficácia de 30%, Alonso sublinhou que uma redução de 30% dos casos de malária grave -- que são ainda hoje a primeira ou segunda maior causa de hospitalização de crianças em África -- tem "um impacto maciço na saúde pública, provavelmente maior do que o impacto de qualquer outra vacina contra qualquer outra doença em uso atualmente".

Se a utilização de instrumentos de eficácia moderada como as redes mosquiteiras impregnadas com inseticida permitiram evitar 10 milhões de mortes nos últimos 20 anos, esta vacina, a acrescentar a esses instrumentos, permitirá salvar outros milhões nos próximos anos, argumentou.

"Representa um avanço científico maciço, e uma oportunidade histórica para a saúde pública em África", acrescentou.

Admitindo que existem desafios no objetivo de alargar a vacinação contra a malária nos países da África subsaariana, onde em 2020 ocorreram 96% das mortes por malária no mundo, Alonso disse que as dificuldades "podem ser facilitadas se houver compromissos financeiros".

"E isto leva-me àquilo que é a grande barreira: a solidariedade internacional. O mundo vai permitir que exista uma primeira vacina contra a malária que pode salvar as vidas de milhares de crianças africanas e deixá-la ficar na prateleira? Ou vai dar um passo em frente, assumir a responsabilidade global que tem e, com urgência, facilitar os recursos financeiros que permitirão aumentar a produção e ajudar-nos a levá-la até onde as mortes podem ser evitadas", lançou o responsável.

Para Alonso, "se a comunidade global não responder a este desafio, será um falhanço maciço".