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Crónicas

Os animais não são nossos filhos, são nossos amigos

Perceber que somos de espécies diferentes e que nunca seremos iguais mas que todos merecem respeito e dignidade será um bom ponto de partida para começarmos a conviver de forma mais saudável

À medida que a vida me vai comendo dias vai-me moldando também numa pessoa cada vez menos tolerante no que toca a fundamentalismos. Está mais do que provado que é um caminho que não nos leva a lado algum. Torna-nos irracionais e estúpidos. Faz-nos perder a razão. E eu confesso que lido mal com a estupidez que prolifera alarvemente por alguns sectores da nossa sociedade. Eu sou das regras e dos limites para uma saudável convivência entre todos. O oposto da anarquia e da justiça pelas próprias mãos. Acho por isso execrável qualquer tipo de violência que seja praticada a seres humanos ou animais. Quem a pratica deve responder perante a justiça e sofrer as consequências do crime que cometeu.

O que eu não consigo perceber é a forma como os anti tudo e mais alguma coisa, arautos da moralidade que se assumem contra a violência aparecem depois carregados de ódio a ofender tudo e todos e desejar inclusive a morte de quem não está de acordo com a sua cartilha. Para mim o valor da Vida devia ser absoluto e não é compaginável com gostos ou preferências. É por isso natural que tenhamos todos assistido com consternação e emoção às notícias que nos chegaram de Santo Tirso. Imagens de dezenas de animais carbonizados, perante a impotência de quem cá fora tentava de tudo para os ajudar. Se esse canil não estava legalizado ou se falhou nas normas de segurança, se os animais não eram bem tratados ou se a culpa de morrerem foi das condições deficitárias do espaço, o dono (ou os donos) devem ser responsabilizados por isso e chamados à colação. É assim que funciona num estado de Direito.

Acho no entanto, uma aberração, alguém achar que a vida dos animais é mais valiosa que a dos seres humanos e só o facto de certos trogloditas serem escutados com atenção enquanto vociferam tais dislates é sinónimo da inversão de valores que inunda o nosso Planeta. A dona do referido “ Cantinho de 4 Patas “ foi parada na estrada e agredida. Outros confundiam alguém com o mesmo nome e dirigiram-lhe impropérios que não devem de igual forma passar incólumes. A pessoa confundida foi ameaçada nas duas contas de Facebook que gere. Uma pública, ligada à poesia, e outra privada. “Fui chamada de assassina, disseram que me partiam os dentes, que não podia sair à rua sem olhar para trás, que eu ia morrer, que me ia acontecer o mesmo que aos animais. (...) A última [ameaça] que recebi enfatizou o facto de não ser uma ameaça, disse que eu ia morrer carbonizada, só faltava dizer a data e a hora”. Assim mesmo, olho por olho dente por dente.

Considero que a cada dia que passa, existe mais respeito pelos animais. Os filmes da Disney e outros que acompanharam a nossa infância a isso ajudaram. Aproximá-los das crianças é um passo fundamental para que sejam tratados como merecem, incentivar o seu relacionamento, a criação de laços e sentimentos só pode ser positivo. Cresci com a frase “Os animais são nossos amigos” e de facto, de um modo geral é dessa forma que os devemos ver. Se assim formos educados estaremos mais próximos de lhes querer bem. Ao mesmo tempo entendo que ainda existe um grande caminho a percorrer por forma a dotá-los de uma personalidade jurídica que lhes conceda direitos e que não os ponha ao mesmo nível das “coisas”.

Não deixo de registar no entanto, a quantidade de pessoas que deixa os seus pais e avós ao abandono, que não demonstram atitudes tão solicitas na defesa dos direitos das crianças e que pouco se importam com certas atrocidades que vemos em relação a pessoas e depois se levantam com um cajado na mão sempre que acontece algo aos animais. Nem sei, tão pouco o que acharão os animais de serem passeados por trelas, submissos à vontade de quem lhes ordena ao invés de poderem passear livres por onde querem e bem lhes apetece. Perceber que somos de espécies diferentes e que nunca seremos iguais mas que todos merecem respeito e dignidade será um bom ponto de partida para começarmos a conviver de forma mais saudável. Isso nunca passará por acharmos que um gato pode ser um filho ou um cão um irmão. São amigos e companheiros. É assim que devem ser tratados.

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