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O lapsus-linguae

O Primeiro Ministro (PM) afirmou que “é preciso muito má-fé” para considerar insultuosa a sua afirmação de que a escolha de Lisboa para a fase final da Liga dos Campeões “é também um prémio merecido aos profissionais de saúde”. Creio que os profissionais de saúde não estão à espera de prémios e pretendem apenas que o PM satisfaça as suas justas reivindicações que vão desde melhores retribuições a condições de trabalho e operacionais para uma melhor assistência aos pacientes. E não sendo um “insulto” é uma afirmação sem um mínimo de bom senso, revelando algum desdém para com esses profissionais já que o dito “prémio” poderá obrigá-los a mais trabalho e sacrifícios em face de um provável aumento de contaminados com o vírus. O pretenso agradecimento do PM aos profissionais de saúde não passou assim de um lapsus linguae no seu discurso, ao procurar tirar dividendos políticos da decisão da UEFA. Como não fosse de bom tom armar-se em “herói”, a modéstia fica sempre bem mas não a falsa, lembrou-se então de “partilhar” os seus “méritos” com os profissionais de saúde ainda que esquecendo a generalidade dos portugueses cujo comportamento tem sido, pelo menos até agora, a chave do sucesso para conter a pandemia sem criar o caos no SNS. De resto há algo de paranoico quando diz que todos os países europeus quereriam o evento e refere a Alemanha como “desesperada” por não tê-lo conseguido. Logo a Alemanha talvez o único país da UE cujos serviços de saúde não só foram capazes de fazer frente com êxito à pandemia a nível interno como prestaram ajuda a países cujos serviços de saúde colapsaram. A fase final da Liga dos Campeões em Lisboa não contribuirá minimamente para resolver a crise que enfrentamos antes pelo contrário, obrigará a mobilizar meios do SNS contra a Covid-19 e protelará uma vez mais a devida assistência aos pacientes com outras patologias. Espero que desta história cor de rosa com que o PM nos entretém não resulte algo pior do que um lapsus-linguae.

LI

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