>
Crónicas

Turismo, os novos paradigmas

O mais difícil não é reabrir, é conquistar a confiança para conseguir ser rentável após a abertura. Conseguir promover os destinos como seguros através de dados factuais bem parametrizados, mas também na promoção desta nova realidade

Depois de alguns meses de choque marcados pelo histerismo e pela inacção de diversos Governos vamos aos poucos começando a perceber a real dimensão desta pandemia, que muitos garantem trazer uma verdadeira catástrofe económica e social. Não deixa ainda assim de ser estranho, com tantos entendidos na matéria e tanta informação disponível, nomeadamente através de uma evolução tecnológica sem paralelo, que ainda pouco se saiba e se fale, parcas projecções e valores desconhecidos ou mantidos em segredo para não criar uma hecatombe no sistema financeiro mundial. Mas do que já dá para perceber, parece-me óbvio que Estados que vivam excessivamente dependentes de uma ou duas matérias-primas como o Petróleo ou os que se alavancaram no Turismo nos últimos anos serão os mais afectados pelos novos tempos, sobretudo no curto prazo.

Isso leva-nos para uma reflexão obrigatória sobre os novos fundamentos desta área tão importante para Portugal mas também no entendimento do que já vinha sendo tendência nos anos anteriores. Para onde caminhará o Turismo? Quais serão as novas escolhas? O que procurarão os turistas primeiro? No encontrar de soluções que permitam acompanhar estas respostas estará, o sucesso (ou insucesso...) do que aí vem. Os estudos mais recentes e anteriores à Covid-19 indicam-nos, de forma clara, que as pessoas procuram cada vez mais o sossego, a paz e a tranquilidade em contra ciclo com a massificação, os ajuntamentos e a confusão. Não é por isso de agora, mas será certamente mais vincado neste novo recomeço. As razões estão bem identificadas. O excessivo stress no trabalho, a poluição e uma cada vez maior preocupação com a saúde física mas também mental aliadas à vontade de nos entregarmos mais aos momentos, aproveitando de uma forma mais produtiva o tempo e a natureza mas também quem nos rodeia, ao invés da escolha até aqui preferencial de querer estar onde toda a gente está, para ver e ser visto.

É por isso fundamental assegurar saúde e segurança como premissas para atingir resultados que coloquem os espaços e os países novamente numa rota sustentável. Estarão pois, mais do que nunca, cumpridos os pressupostos que nos levarão ao reencontro com a natureza e com o natural, o puro e o orgânico. E se a sustentabilidade do nosso ecossistema já estava na agenda da sociedade agora entrará também para a ordem do dia a sustentabilidade da nossa mente, dos princípios que nos regem e da procura pela qualidade de vida através de projectos e ofertas direccionadas para uma consciência ecológica que nos permita o encontro com a nossa paz interior, a nossa cultura e a nossa capacidade de nos regenerarmos. Quando tínhamos como prioridade a quantidade teremos agora uma valorização da qualidade. Com menos fazer mais. O prazer em detrimento da imagem, o profundo como necessidade para nos conseguirmos adaptar aos problemas e viver da melhor forma possível.

É assim premente encontrar soluções que vão ao encontro do novo turista ou das novas escolhas e preferências do Turismo. Por isso é tão importante passar esta crise com uma demonstração clara de maturidade política e de capacidade de estar à altura dos desafios. O mais difícil não é reabrir, é conquistar a confiança para conseguir ser rentável após a abertura. Conseguir promover os destinos como seguros através de dados factuais bem parametrizados mas também na promoção desta nova realidade. Desenhar uma visão estratégica que permita ir ao encontro das novas necessidades, das novas vontades e do tal novo normal. Será por certo o momento em que espaços ainda pouco explorados com propostas desafiantes em matéria de tratamentos e de interacção com a natureza, com dinâmicas de bem estar, da valorização do património, do espaço e da conservação, bem como da integração no meio ambiente podem vir a assegurar um lugar preferencial nas escolhas de quem procura marcar as suas férias. O mergulho num mar, sem medo de bater com a cabeça em alguém quando nos levantamos e um passeio pela serra sem filas serão a nova sofisticação. Não é por acaso que as doenças da mente são consideradas das mais perigosas e desconhecidas do nosso século.

Fechar Menu