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Ainda há censura?

Definir racismo é sempre pouco consensual; a ideia para definir raça é contestada pela ciência. O Dicionário de Oxford define racismo como “crença de que todos os membros de cada raça possuem características, habilidades ou qualidades específicas daquela raça, especialmente de forma a distingui-la como inferior ou superior a outra raça ou raças”. Isto não é uma definição científica. É uma ideia popular, que já vigorava na Antiguidade e da Idade Média. Foi esta crença de raça, como ideologia de popular e não científica, que foi usada como forma de manipulação política por Hitler, que assim promoveu o extermínio dos judeus e conseguiu convencer tantos alemães a acreditar na raça ariana. Estas ações políticas racistas também aparecem em noutros pontos do mundo; são exemplo disso o apartheid na África do Sul e as leis de segregação racial no Sul dos Estados Unidos.

A história será sempre um relato, contada de formas variadas, dos factos da existência da humanidade. Não sei se Portugal pode ser considerado, presentemente, um país racista (não tendo dados para o confirmar ou desmentir esta afirmação). Mas posso refletir no que se passou nos Estados Unidos e nas consequências desses atos pelo mundo fora. Assistimos a um ato de violência e falta de humanismo na forma como George Floyd foi assassinado por uma força policial; não se pode violentar pessoas só porque se tem medo delas.

Mas houve um aproveitamento de uma situação dolorosa e trágica, se calhar até por movimentos racistas e muitos outros, para gerar uma onda de violência inacreditável. Apesar da gravidade do momento, não se pode prejudicar uma sociedade e condená-la a um acréscimo de uma doença fatal.

Existe, neste desencadear de acontecimentos, uma censura da História sem muitas vezes se conhecer a verdadeira razão dos acontecimentos passados. Assistimos à vandalizarão de estátuas e à abolição de filmes que marcaram uma época em que a maneira de pensar era diferente, mas que estão aí para nós fazer aprender, refletir e, se pudermos, a não voltar a cometer os mesmos erros. Estes erros chegaram muitas vezes a ser atrocidades. Mas, assim como não podemos apagar o passado das nossas vidas, e sim aprender como ele, também não devemos apagar a história que nos trouxe até os nossos dias. Eu tive um professor de História que dizia que quem não conhece história não pode saber fazer um mundo melhor.

Os Descobrimentos foram um marco necessário para o mundo, mas este período não deixou de ser uma época de escravos, de poder financeiro e político. As guerras são sempre injustas e demostram a falta de capacidade no diálogo do Homem, e a sua necessidade de ganância e domínio de outros seres humanos. A história do comunismo relata atrocidades, de forma a satisfazer o poder político. Tudo isto, e muito mais, não é muitas vezes digno do ser humano nem de qualquer país.

Mas procedemos de forma errada se destruirmos os testemunhos da História e não quisermos saber o que aconteceu no passado, ou ficarmos pelo que se diz numa forma popular. A destruição das representações de factos históricos ou de memórias históricas não contribui para uma perceção adequada da realidade, pelo contrário. Como dizia um comentador, a vandalização da estátua do Padre António Vieira faz recordar os terroristas do Daesh, quando destruíram as ruínas de Palmira.

Infelizmente, ainda há muitos seres humanos a serem ameaçados e mortos por outros seres humanos. Os cristãos hoje em dia são vistos como um grupo a ser abatido e os seus locais de culto são queimados ou vandalizados; como não servem a mesma linha de pensamento das maiorias dos nossos dias, matam-se, põem-se à margem. A eutanásia segue os mesmos princípios: se há grupo de pessoas mais velhas que já não contam nem dão rendimento, matam-se.

Ponhamos os olhos no Papa se quisermos modificar aquilo de que não gostamos: Sua santidade telefonou a um bispo americano, elogiando-o por este ter homenageado George Floyd. É preciso uma mudança, mas que não passa pela violência, nem pela destruição de bens patrimoniais de todo o mundo.

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