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Brasil lança missão para proteger indígenas isolados da Amazónia

Foto Reuters
Foto Reuters

O Governo brasileiro enviou hoje as Forças Armadas para uma missão de combate à pandemia de covid-19 no Vale do Javarí, território indígena do estado do Amazonas que abriga a maior concentração de índios isolados do mundo.

Na operação, o Ministério da Saúde, com o apoio logístico do Ministério da Defesa, deslocou 23 médicos do Hospital das Forças Armadas para reforçar a assistência sanitária aos sete mil indígenas que vivem nas margens do rio Javarí, na fronteira com o Peru.

Juntamente com os profissionais de saúde, foram enviados cerca de 70 mil equipamentos de proteção individual e produtos hospitalares, incluindo 16 ventiladores pulmonares, máscaras, luvas, álcool em gel e testes rápidos para detetar o novo coronavírus.

Conforme relatado pelo Ministério da Saúde em comunicado, o material foi destinado ao Hospital Municipal de Atalaia do Norte, referência para toda a região do Vale do Javarí, assim como ao Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) para o atendimento naquelas aldeias.

Com o avanço da pandemia no interior do Brasil, as medidas de isolamento social foram insuficientes para evitar a ameaça do vírus nessa região remota do país, onde já foram registadas 32 infeções.

Atualmente, as autoridades de saúde não registaram nenhuma morte na área causada pela doença, embora se calcule que o novo coronavírus já esteja a circular em pelo menos quatro daquelas 63 aldeias de indígenas isolados.

A denominação de “povos indígenas isolados” refere-se especificamente a grupos indígenas com ausência de relações permanentes com a restante sociedade ou que interagem com pouca frequência com não índios ou com outros povos indígenas, segundo fontes oficiais.

No momento, entre a população indígena do Brasil há registo oficial de 107 mortes e 3.345 casos confirmados de covid-19, segundo o último boletim da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde.

Contudo, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazónia Brasileira (Coiab) relata números superiores aos do executivo, tendo contabilizado até segunda-feira a morte de 249 indígenas e o contágio de 3.662, num total de 78 povos atingidos pelo novo coronavírus.

A divergência entre os dados do Governo e de entidades indígenas tem sido uma constante desde o início da pandemia, e foi criticada no início do mês pela coordenadora da Articulação de Povos Indígenas do Brasil (APIB), Sonia Guajajara.

Segundo Guajajara, o problema na contagem está na forma como o executivo avalia se o cidadão é ou não indígena.

“A Sesai faz uma seleção de quem eles acham que é indígena e quem não é. Então, eles não registam indígenas que estão em contexto urbano. A própria estrutura da Sesai, sem atendimento próximo a algumas aldeias, faz os indígenas irem para os municípios. Lá, eles entram na contagem normal do município, sem serem considerados indígenas com covid-19”, explicou Guajajara.

Na avaliação da coordenadora da APIB, organização que coordena a luta dos povos originários pelos seus direitos, trata-se da “negação de querer mostrar a situação real”.

Na maioria, a população indígena brasileira está distribuída por milhares de aldeias, sendo que grande parte das infeções pelo novo coronavírus foi registada na floresta Amazónia, onde está localizada a generalidade das tribos isoladas.

Uma das principais preocupações das autoridades é a vulnerabilidade das populações indígenas face a doenças respiratórias, o que aumenta o risco de agravamento em caso de contágio pelo novo coronavírus.

O Brasil é o segundo país do mundo com mais mortes e também com mais casos confirmados, totalizando 46.510 óbitos e 955.377 casos confirmados desde o início da pandemia no país.

A pandemia de covid-19 já provocou quase 449 mil mortos e infetou mais de 8,3 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

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