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O silêncio do confinamento

Apenas a televisão (às vezes para ouvir as notícias) e a música quebram o silêncio, todos os outros sons cessaram na rua os automóveis quase não circulam, os autocarros que de hora em hora passavam no bairro deixaram de circular, este maldito vírus.

Apenas os pássaros e o vento, se eu estivesse silencioso, não ouviria nada. Mas se eu me mantivesse silencioso, os outros sons recomeçariam, (quem me deram que este tormento terminasse), aqueles a quem as palavras me tornaram surdo, ou que realmente cessaram, para escreverem muitas vezes apenas estupidez nas redes sociais.

Estou silencioso, por vezes acontece, gostar de me remeter ao silêncio, mas nunca tanto como agora. Também choro, sinto a nostalgia e a solidão. É um fluxo incessante de palavras e lágrimas. Sem pausa para reflexão, apenas pensando naqueles que partem, nas famílias que nem se podem despedir.

Falo mais baixo, cada momento um pouco mais baixo, talvez. Também mais lentamente, cada momento um pouco mais lentamente e sozinho, apenas quebrado pelo telefone que às vezes toca as redes sociais quase deixaram de existirem para mim tanta é a estupidez e postes sem nexo que por lá passam.

Porcaria de vírus de dízima a população, em especial a mais idosa. Um pouco por toda a parte ninguém está imune, ricos, pobres, brancos, negros, católicos ou muçulmanos, “ninguém”, como estamos enganos se pensamos que só acontece aos outros, todo o cuidado é pouco e esse pouco significa muito.

É-me difícil compreender, porquê?

Mas se todos, sim, todos, tivéssemos os cuidados necessários, se não nos remetêssemos ao silêncio mas sim ao isolamento temporário, se entrássemos em pânico, mas sim ao respeito, tudo poderia ser diferente, não apenas pelos outros mas acima de tudo por nós mesmos, pelos nossos, por quem nos rodeia, “por todos”.

Se abandonássemos o nosso espírito egoísta de açambarcadores sem nexo fazendo autênticas lojas em casa comprando tudo e mais alguma coisa, não dando hipóteses a quem pouco tem para comprar alguma coisa. Se não viesse ao de cima o espírito animalesco que existe no ser humano, de apenas pensar em si e na sua sobrevivência, não se preocupando com quem o rodeia. Se pensássemos, sim um pouco em nós, mas também nos outros. Talvez pudéssemos acabar com o silêncio, os sons da rua voltariam, o riso das crianças na rua e até o sol dariam outra razão á vida e colorido ao mundo, no qual fomos colocados para o preservarmos e acima de tudo sermos felizes.

Hoje quase que nos proibiram os afectos, abraços, beijos e cumprimentos. Proibiram-nos as festas, o futebol e muitas coisas mais, mas não sejamos egoístas é apenas temporário se assim quisermos. Amanhã tudo voltará ao normal e não vamos dar um abraço, beijo ou cumprimento, mas sim dezenas, milhares ou até milhões. Vamos acabar com o COVID19. Vamos ficar no silêncio hoje por muito que nos custe, não pelos outros, mas sim por nós mesmos e pelos nossos, amanhã gritaremos a plenos pulmões e cantaremos felizes como os pássaros livres voando de ramo em ramo.

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