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Pais divorciados em tempo de pandemia – Um grito por ajuda

Já há algum tempo que não durmo o que devia, que não como o que seria melhor para mim e que não choro o que me apetecia chorar.

Não foi o covid19 que me derrotou, não foi o confinamento que cumpro há 2 meses, não foi o meu layoff, não foi o não-inicio do novo emprego da minha mulher, não foi sequer o não estar com os meus pais ou irmã durante este tempo.

O que me derrotou foi me ser proibido estar com a minha filha de 5 anos de idade. Quando foi proibido à minha filha estar com o Pai e estar na sua outra casa.

Passámos por um período pascal, onde a nossa reunião era “incerta”, porque não era claro o que estava ou não salvaguardado na limitação de circulação entre concelhos, porque umas autoridades diziam que sim, outras que não, outras que “dependia da interpretação”. Mas desde quando um pai ou mãe estar com uma filha deve sujeita a uma interpretação? E de quem?

Mas eis que então chega a “cerca”, ou como diz a Madalena a “cerca maldita”, que inequivocamente (depois de uma correcção feita no dia seguinte à sua imposição) impede-nos de estarmos juntos. Parte da beleza das crianças está na forma como mesmo perante as maiores adversidades, elas encontram formas de aceitar a sua realidade. Mesmo triste por não poder ficar numa das suas casas e estar com o seu pai, diz-me ela: “Papá não saltes a cerca porque a lei é a lei”.

Ao contrário da minha filha de 5 anos, eu não tenho essa capacidade tão disponível, mas tenho a capacidade de saber mais algumas coisas do que ela:

1. Que a distância que me separa da cidade nova é maior do que a que me separa de São Martinho.

2. Que a cerca poderia ter sido reduzida à zona especifica do surto depois de se isolarem os casos positivos e se garantir o confinamento dos contactos da cadeia.

3. Que nem faz muito sentido usar cercas se não houver transmissão comunitária (normalmente os constrangimentos que impõe superam largamente os seus benefícios)

4. Que um treinador de futebol pode optar por fazer um teste voluntário e viajar para a região sem ter de cumprir quarentena obrigatória, mas o pai não pode fazer o mesmo para atravessar a ponte dos socorridos.

5. Que a construção civil pode começar a trabalhar, ao mesmo tempo que se mantêm 18 mil madeirenses dentro de uma cerca (onde existiram 29 covid-positivos)

Se esta carta não servir para mais nada, ao menos que sirva para que tomem estes temas em consideração numa próxima hipotética cerca sanitária.

A batalha contra o covid19 não se ganha com dias onde não há mais casos positivos, isso é um engano, uma ilusão, pessoas bem mais informadas do que eu, andam a explicar isto há algum tempo.

A batalha contra esta pandemia ganha-se com o aprender a viver com este vírus até que haja uma vacina. Isto não é um sprint, é uma maratona. E para corrermos uma maratona temos de gerir bem os nossos esforços e aliviar onde podemos aliviar, parece-me que poder estar com os nossos filhos menores é um sítio onde se pode aliviar e sobretudo deixar bem claro para todos essa situação.

Bem hajam pais e mães divorciados por este país fora.

Bem hajam todos.

Muita Força.

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