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A Semana Santa já passou!

Vivemos em confinamento social e não em coma intelectual!

Para começar, desenganem-se os espertos saloios que utilizaram este tempo de confinamento social para continuarem a nomear assessores e outros cargos afins para os Gabinetes do Governo Regional. Numa altura em que muitas famílias estão a passar pelo layoff e muitas vão enfrentar o desemprego, estas nomeações foram uma afronta a todos nós.

Não pense também quem governa que passou despercebida a primeira medida que anunciaram logo após o início desta crise de saúde pública aqui na Madeira - atribuição de 28 milhões de euros às Sociedades de Desenvolvimento.

É tempo de sermos realistas! Não há folga para desperdícios financeiros e prioridades distorcidas. Todos nós já sabemos o impacto económico e financeiro que a paragem da economia vai ter nas finanças públicas e no dinheiro disponível em todas as instituições. E arriscamo-nos a uma nova austeridade, inclusive na administração pública.

E todos nós já sabemos que isto não vai ficar tudo bem. O “tudo bem” que podemos ambicionar é mantermos a saúde e evitarmos as mortes. E porque isto depende quase exclusivamente de nós, de nos cuidarmos, acredito que na saúde tudo vai correr bem. A luta pela vida deve ser a nossa prioridade!

Depois... Logo veremos como vamos ultrapassar as dificuldades. Esta é a realidade! Não nos faltará garra para ultrapassar as dificuldades. Se aos nossos pais que estiveram na guerra colonial não faltou esperança e garra para vencer, nós, que somos feitos da mesma fibra, somos capazes de fazer o mesmo.

Mas para vencer, nos tempos futuros precisamos de exigir mais como povo. Não há folga para o “deixa andar”. Este vírus veio demonstrar as fragilidades das estruturas sobre as quais a nossa sociedade se baseava, das economias e da ordem mundial. Uma nova geopolítica mundial está a ser desenhada. Mas acarreta em si um risco muito grande – a tendência para a ditadura e a intolerância.

Com esta pandemia e estando todos os países preocupados em resolver os seus problemas de saúde pública, regimes de países como a Venezuela ficam completamente livres para fazerem seja o que for desprotegendo aqueles que lutam por um sistema democrático. Curiosamente, ainda não vi nenhuma iniciativa de deputados luso-venezuelanos demonstrando preocupação na defesa das comunidades portuguesas na Venezuela.

E como começa a ditadura? Começa nos atropelos à lei. Por isso, é inaceitável não cumprir a lei. E é grave ver no Parlamento Regional o Vice-Presidente do Governo afirmar que não se vai preocupar em cumprir regulamentos e leis. Vamos continuar a ser condescendentes com estas situações?

O que deveríamos assistir era vê-lo afirmar que ia tomar todas as medidas para cumprir em tempo recorde os requisitos necessários para o desbloqueamento de todas as verbas necessárias para a retoma económica. Justificaria assim a constituição da sua equipa de confiança de inúmeros assessores, adjuntos, técnicos especialistas e afins.

E já repararam nalguns “tiques” dos membros do Governo Regional nas conferências de imprensa, sempre que um jornalista faz uma pergunta que não agrade? E as perguntas sem respostas? Tomaram gosto pelo Trump? E quando se irritam? Vamos continuar a ser tolerantes com esta forma de discurso?

A confiança conquista-se. E exigia-se agora muita na gestão das contas públicas para um diálogo mais fluido com a República. Ao invés, continuou a apostar-se num discurso azedo de acusação do bicho papão do “Continente”. Acredito que Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, homens com verdadeiro sentido de Estado, não vão abandonar-nos. Temos sorte!

Não me agrada a dualidade de critérios e a perversão de valores. Vejamos: aos cristãos praticantes foi pedido que vivessem esta Páscoa de forma diferente. Vimos as nossas igrejas fechadas e assistimos às cerimónias e celebrações eucarísticas por televisão. D. Nuno Brás optou pela segurança do povo em detrimento de um fanatismo religioso. Bem-haja! Demonstrou sensatez e sabedoria.

Por contraponto a esta decisão, decidiu-se levantar algumas restrições, nomeadamente de proibição de ajuntamentos sociais de forma a permitir as celebrações do 25 de abril e o 1.º de maio. E eu pergunto: em quê estas liberdades democráticas são mais importantes do que a liberdade religiosa ao ponto de serem comemoradas com exceções ao confinamento decretado no nosso país?

Não vivemos tempos de exceção? Não podiam estas celebrações serem comemoradas apenas por televisão com os principais intervenientes e com atos simbólicos para lembrar a liberdade, reduzindo ainda mais substancialmente o número de pessoas presentes? Sem convidados?

A matriz futura será diferente. O mundo está em mutação acelerada e não vamos voltar ao passado. É tempo de pensarmos que futuro realmente queremos e o que é necessário mudar. Eu acredito que vamos conseguir ultrapassar as dificuldades. Mas vai doer. Entretanto, cuidem-se. Digam sim à vida!

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